As Cores da República
Colunistas
quinta-feira, 04:00 - 19/05/2016

Dizem que esse país exótico e de muitas cores nasceu impulsionado pelo espírito aventureiro de um navegador, ávido por fama e poder. Contratado por um reino distante, obcecado por ampliar seus domínios, há mais de quinhentos anos, o navegador de além-mar aportou nas terras onde habitavam temidos antropófagos. Chegou comandando naus lotadas de marujos de passado obscuro, renegados e ambiciosos em fuga. Deslumbrados com as terras férteis, a beleza das praias e das matas, a fartura e as riquezas ostentadas pelos nativos, desembarcaram cobiçosos para encher os bolsos e os baús até transbordarem de ouro. Derrubaram árvores, poluíram os rios, dizimaram espécies animais...
Deixaram um rastro de destruição por onde passaram. Era tanto para “meter a mão” sem que precisassem prestar contas...
Os anos e depois os séculos foram passando, o país se tornou independente pelas mãos de um imperador fanfarrão e mais tarde virou República... E nesse processo, enquanto alguns prosperavam mais e mais, a maioria permanecia ali, naquela linda terra tropical, de dimensões continentais e belezas naturais sem igual, mas à margem... O esforço do trabalho honesto era motivo de escárnio dos corruptos de plantão, que escondiam “verdinhas” nas cuecas e nos paraísos fiscais. “Onde foi parar a ética e o comprometimento com o povo?”, todos se perguntavam. A aparente prosperidade deu lugar à apreensão. Castelo de areia? Efeito dominó?
Hoje essa República se divide em duas grandes tribos rivais e o povo assiste os embates, incrédulo... E agora?! Para onde vai a República? Minha casa, minha vida! Moro na Rua Curitibana, onde existem grandes lentes e olhares vigilantes, sempre a desvendar mistérios... Traz logo essa vassoura e aquele lava jato para remover o encardido desse chão, encharcado de petróleo! “Bora” promover uma limpeza geral para varrer as ratazanas de paletó e gravata! E não importa se a gravata é vermelha, azul, verde, amarela, ou preta.
Mexeu com o meu dinheiro, tem que ir em cana!
- Afinal, Juvenal, que República é essa? Por acaso é uma republiqueta de bananas?!
- Não, José, é o país onde canta o sabiá, o povo é aguerrido, alegre, criativo, aprendeu a fazer milagres com o orçamento apertado e a música é inigualável...
- Mas que país é esse?!
-Descubra por você mesmo, José... Descubra você mesmo...
Essa crônica integra a Miniantologia 3 da Associação das Letras, lançada em 14 de maio de 2016, em Joinville, que reúne 25 escritores catarinenses.
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