No último domingo (15) foi comemorado mais um Dia do Professor! E, antes mesmo dele chegar, já havia postagens em redes sociais, como whatsapp, facebook e instagram, exaltando a profissão de professor.
A professora de escola básica estava no ponto de ônibus esperando sua condução. O ônibus parou e ela adentrou. Recebeu um “parabéns”, acompanhado de um sorriso do motorista… É claro que os professores gostam de ser parabenizados, pois todos nós gostamos de ser prestigiados – com aplausos, palavras, bons salários – no entanto não tem sido fácil exercer esta profissão (friso: não é só missão ou vocação) e não podemos “tapar o sol com a peneira”.
Nos últimos tempos, tem me faltado o romantismo e se intensificado o realismo. Lembrei-me de Machado de Assis, em um trecho de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, em que se lê: “Botas… as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.” Muitas pessoas creem que professor vive, em especial, de dom e de amor. Mas, em um mundo capitalista, consumista e individualista quem consegue sobreviver apenas de “dom e amor”?!
Quando, em 2020, a pandemia chegou, ela nos forçou a (re)pensar inúmeras questões, dentre as quais sobressaíram-se as aulas, os métodos, a estrutura física, a escola, o plano de carreira, e outras. Confesso que acreditei em uma mudança significativa do olhar das pessoas para a profissão de professor (considerada, na época pandêmica, “serviço essencial”), haja vista que famílias, pais, mães perceberam, em casa, acompanhando seus filhos na árdua realidade das aulas on-line, que ser professor e professora não é para qualquer um. Apesar das máscaras, que abafavam a voz e o ar, impedindo o livre contato, a população “sentiu na pele” as muitas dificuldades que rodeavam a educação, neste país que só lhe enaltece, de fato, em período eleitoral.
Ser professor é um trabalho carregado de intensa preparação e organização. E isso leva tempo. São estudos, reflexões, interações, agires, sentires e percepções que nos acompanham diariamente em uma profunda relação de interação humana, permeada pelos “nós”, “agentes” e “a gentes” e contextos sócio-históricos. Desse modo, é necessário prosseguir além da sala de aula, envolvendo-se com o entorno; a família e a sociedade. Do contrário, é um estar na profissão, e não, necessariamente, “ser”.
Ao lado da professora, no ônibus, uma jovem estava lendo um texto chamado “A solidão amiga”, de Rubem Alves, e ela inclinou-se para ler o que dava: “Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: ‘não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você’”. Ficou pensando…
Nesse ínterim, após uns segundos de análise, despertou e notou que no bairro em que mora há muitas igrejas, lanchonetes, padarias, clínicas estéticas, contudo somente uma escola. Ah, existem também lojas de departamento que tudo vendem, todavia, nenhuma livraria.
Ela avistara uma floricultura pela janela do ônibus! Então, gritou ao motorista:
– Por favor, pare o ônibus, quero descer.
Estaria Sartre certo? Talvez essa tal realidade pode ser o lugar onde plantaremos o nosso jardim.