Em 2014, durante o governo petista de Dilma Rousseff, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense chamou o Brasil de “anão diplomático”, após o Brasil criticar ações militares de Israel na Faixa de Gaza. Dez anos depois, em 2024, Lula conseguiu superar esse vexame histórico do petismo ao se tornar “persona non grata” em Israel, depois de ter comparado as ações militares atuais do governo israelense em Gaza com a matança em massa de judeus levada a cabo por Hitler na Segunda Guerra Mundial. É a primeira vez que um presidente brasileiro se torna uma pessoa que não é bem vinda em outro país.
A comparação de Lula é totalmente inadequada, pois não há paralelo entre os atos abomináveis de Hitler e a guerra de Israel contra o Hamas. A Alemanha Nazista adotou uma política oficial de extermínio do povo judeu, chamada de “Solução Final”. A “solução” criada pelos nazistas, como todo mundo sabe, foi implementar uma política de assassinatos em massa, em escala industrial, de judeus e outras populações indesejáveis, como ciganos, homossexuais e pessoas com deficiência. Era o mal em estado puro, premeditado e calculado com o objetivo de aniquilar completamente grupos sociais vistos como nocivos à “pureza ariana alemã”, que era, na visão nazista, uma “raça superior”.
Na Solução Final, os nazistas prepararam guetos onde judeus eram segregados e campos de concentração onde eles eram escravizados e exterminados. Os assassinatos de mais de 6 milhões de judeus foram cometidos de várias formas, sempre buscando uma eficiência total: em câmaras de gás, em fornos ou em fuzilamentos coletivos diante de grandes valas. Os judeus foram caçados como animais, perseguidos e colocados em trens de transporte para os campos, espoliados de todos os seus pertences e posses patrimoniais, como jóias, dinheiro, obras de arte e relíquias de família. Muitos foram torturados, estuprados e usados como cobaias em experimentos científicos realizados por médicos monstruosos, como o famoso Dr. Mengele.
O Holocausto, portanto, em nada se assemelha a Gaza, onde ocorre uma ação militar de Israel no exercício de um direito de autodefesa, após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 que deixou mais de 1200 mortos e mais de 200 reféns sequestrados pelo Hamas. Até hoje, mais de 100 reféns continuam em poder do grupo terrorista. É um fato que a guerra contra o Hamas é assimétrica e de difícil combate, considerando que Israel tem um poderio bélico maior e o terreno em Gaza é desafiador, pois é estreito e tem uma grande densidade de uma população formada em sua maioria por civis.
A morte de civis, muitos deles mulheres e crianças, deve sempre ser lamentada, e o possível uso desproporcional da força por parte de Israel também deve ser criticado. Contudo, em Gaza, Israel abre corredores humanitários para civis, entrega ajuda humanitária consistente em alimentos e remédios, trata feridos em hospitais de campanha e envia avisos antes de qualquer ação militar. Muitos civis morrem porque são usados como escudos humanos pelo próprio Hamas, que age até mesmo para impedir que a população civil saia de áreas em que sabe que ocorrerão conflitos e bombardeios.
Assim, a fala de Lula é infame e vergonhosa para o Brasil. Um dos meus colegas na força-tarefa da operação Lava Jato, Carlos Fernando, sempre nos dizia que se você mencionava o Holocausto em uma discussão, você imediatamente perdia, porque nada se compara ao Holocausto. A fala de Lula revela, além de uma ignorância histórica gigantesca, o viés antissemita e racista de Lula, já que transforma judeus em nazistas, que representam a encarnação da maldade humana a ser repelida ou destruída. Não surpreende que o grupo terrorista Hamas tenha elogiado a fala de Lula.
A Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), uma organização internacional da qual o Brasil é membro, coloca expressamente como um dos principais elementos de discursos antiseemitas “efetuar comparações entre a política israelense contemporânea e a dos nazistas”. O antisemitismo é o racismo contra judeus. A lei antirracismo brasileira, no seu artigo 20, criminaliza a prática, incitação ou indução de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com uma pena que pode chegar a 4 anos e meio quando o crime é praticado por funcionário público.
A Constituição autoriza que um presidente seja responsabilizado por crimes praticados no exercício de seu mandato. Por isso, a bancada do partido Novo no Congresso pediu à Procuradoria-Geral da República que Lula seja responsabilizado criminalmente por suas falas. A questão agora é: Lula será tratado da mesma forma como o STF tem tratado Bolsonaro, ou a autodeclarada lua de mel entre o STF e Lula fará as instituições fecharem os olhos para o crime de racismo que foi em tese praticado por Lula? Cabe à Justiça a última palavra, mas podemos confiar na justiça do STF em relação a Lula, que já teve seus processos indevidamente anulados pelo tribunal no passado?