Vamos aumentar em muito a produção sem aumentar a área cultivada. Essa produtividade é gerada pela tecnologia”, garante à coluna o presidente da Cooperativa Aurora Alimentos e vice-presidente de Agronegócio da Fiesc, Mário Lanznaster. Ele é mais um dos “ideólogos” que estamos ouvindo na série sobre o futuro de SC.
Agora é a vez da agroindústria, setor que, com 700 mil empregos diretos, movimenta mais de R$ 61 bilhões, ou 29% do PIB catarinense – e sempre é bom lembrar que temos apenas 1,12% do território nacional. Quase 90% das propriedades rurais são de agricultura familiar, unidas pelo cooperativismo: SC é o primeiro produtor nacional de suínos, cebola, alho e pescados. E o 2º maior produtor de aves, tabaco e arroz.
Também ouvido pela coluna nesta série, o governador Raimundo Colombo diz que o Estado “tem que aumentar sua presença no mercado internacional e, no Oeste, temos essa capacidade por meio do agronegócio. É o caminho para a economia brasileira, pois em 2017 e 2018 vamos depender muito da exportação”.
Com o governador concorda outro “ideólogo” ouvido pela coluna, o presidente da Federação da Agricultura (Faesc), José Zeferino Pedrozo.
“Nosso modelo é vitorioso porque está baseado no associativismo, na capacitação profissional permanente e aproveitamento das potencialidades. SC pode se orgulhar de ter uma agricultura forte, moderna, avançada e sustentável. Além da qualidade, o alimento produzido aqui é um dos mais baratos e acessíveis do mundo”.
O Futuro começou em 1955
Assim como apontamos o professor Alcides Abreu (1926/2015) como um dos principais “ideólogos” do planejamento da economia e da gestão administrativa de SC, na Agricultura a figura emblemática é Glauco Olinger, que fará 95 anos em setembro. Nascido em Lages, foi se formar em Agronomia em Viçosa (MG) e acompanhou toda ação feita pelo presidente Juscelino Kubitschek em 1955 para dotar os estados de associações de crédito e assistência rural.
Nascia a Acaresc (hoje Epagri) e também o modelo que consagra hoje o agronegócio de SC: “Passamos a plantar na época certa, no espaçamento correto, com sementes certificadas e a importar suínos da Europa e EUA, já com a colaboração da indústria e cooperativas”, lembrou Olinger num depoimento à TV Indústria/Fiesc. O modelo passou a ter seguidores: o agrônomo Mário Lanznaster fez concurso na Acaresc e foi trabalhar no Oeste. “Na essência, nosso modelo deve continuar o mesmo.
Mas, para mantermos a liderança temos sempre que adotar a melhor tecnologia de produção, proteger recursos naturais e empregar as melhores práticas de bem-estar animal”, diz Lanznaster, hoje na presidência da Aurora, cadeira que também foi ocupada pelo administrador de empresas José Zeferino Pedrozo.
O atual presidente da Faesc tem uma marca registrada no modelo da agroindústria catarinense: a capacitação profissional dos agentes econômicos, por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que também preside. Para se ter uma ideia, em 2015 o Senar/SC atendeu 156 mil produtores rurais.
Produtividade
Tanto o presidente da Aurora, Mário Lanznaster, como o da Faesc, José Zeferino Pedrozo, consideram que a fórmula que une tecnologia, capacitação, produtividade e preservação do meio ambiente é ideal para o futuro do agronegócio. “Não existe falta de espaço para produzir, vamos aumentar a produtividade. Veja a safrinha de milho. Há 20 anos era de menos de 16 milhões de toneladas: hoje atinge mais de 60 milhões.
Nas últimas décadas foram realizados grandes investimentos em capacitação profissional dos produtores para a defesa ambiental. O produtor é o mais interessado em proteger a natureza. Recuperação de solos em áreas degradadas é a nova prioridade das regiões produtivas”, explica Lanznaster. Para Pedrozo, “o nível de eficiência produtiva da agricultura catarinense e brasileira é elevadíssimo: conseguimos tudo isso ocupando menos de 30% do território nacional.
E mais: a agricultura verde-amarela é altamente sustentável. O produtor produz e, ao mesmo tempo, preserva os recursos naturais porque sabe que essa conduta assegura a perpetuação da atividade. Prova disso é que 65% do território mantêm a cobertura florestal”.
Natureza
As assertivas de Mário Lanznaster e de José Zeferino Pedrozo sobre a questão ambiental e sustentabilidade na Agricultura seguem a mesma linha de pensamento de Gluco Olinger, “pai” da Acaresc, hoje Epagri. Mas Olinger é mais radical num aspecto. Veja o que ele diz: “Quando montamos um projeto, temos que em primeiro lugar nos perguntar: ‘ele produz algum dano ao equilíbrio natural?’. Se produz, temos que jogar o projeto fora. Temos dezenas de outras alternativas que não danificam a natureza”.
Oportunidade
“Ser eficiente na produção de alimentos não é fácil porque se trata de uma competição mundial”, afirma o presidente da Aurora, Mário Lanznaster. Mas o futuro imediato tem um fator que pode abrir novas portas para Santa Catarina: o efeito do protecionismo do presidente americano Donald Trump. “É cedo para qualquer avaliação, porém, eu acredito que surgirão oportunidades para o Brasil em face de política isolacionista que Trump está adotando.
Sou otimista e vejo oportunidades nas dificuldades que surgem”, opina Lanznaster. O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, vai um pouco mais longe: “Acredito que poderemos ampliar nossa participação no mercado mundial aproveitando as brechas criadas pela política externa de Trump.
Os EUA saíram do acordo Transpacífico, o Brasil pode negociar sua entrada. O mundo reconhece a pujança brasileira na produção de comida. Por isso, somos líderes na exportação de carnes e grãos. Entretanto, sempre nos faltou uma ação comercial mais agressiva. A oportunidade pode estar surgindo agora”.