Consultório. - Bom dia, é do doutor Alfredo? - Consultório do doutor Alfredo, sim. Pois não? - Gostaria de marcar uma consulta. - Já é paciente? - Não. - Particular ou convênio? - Convênio. - A agenda está cheia para os próximos sessenta dias. - Ôrra. E pra depois? - Pra depois eu ainda não abri agenda. Só mês que vem. Daí tem que ligar depois do dia cinco. - E não tem como deixar o nome, caso alguém desista? - Muito difícil. Já tem fila de espera. Melhor ligar daqui a um mês. - Putz, não dá pra esperar tanto. - Urgente? Tem o pronto-atendimento do São José. Ou, procura um postinho. A greve já acabou, sabia? - Pois é, mas imagina como está a fila de atendimento depois de um mês de paralisação! - Daí eu não posso fazer nada. - Podia dar um jeitinho de me encaixar aí na agenda. Entre um paciente e outro... rapidinho... - A agenda já é bem apertada. Não tem como fazer encaixes. - Poxa, dificuldade, hein!? E particular? Tem vaga antes? - Dá pra encaixar. - Mas, você acabou de dizer que não tem como fazer encaixes! - Isso para plano. Particular a gente dá um jeitinho. - Injustiça seja feita! E quanto custa? - Trezentos reais. Tem direito a um retorno em vinte dias. - Eita! Trezentão? Para quando tem horário? - Particular tem pra amanhã, na parte da manhã ou da tarde. O que o senhor prefere? - Poxa, para amanhã não posso. - Se quiser, tem pra daqui a pouco. O doutor está aqui, hoje o dia tá calmo. - Faz no cartão? - Até duas vezes. Precisa de nota? - Não. Preciso é de um exame, uma receitinha, um remedinho... - Se precisar de nota, tem que incluir o imposto. - Pô! Pode ser sem nota mesmo! Essa relação médico-paciente tá até parecendo contrato pré-nupcial de milionário!