♫ “I You hear laughter/ Cracking through the walls/ It sends you spinning/ You have no choice/ Following the footsteps of a rag doll dance/ We are entranced! Spellbound!”♫ (Spellbound; Siouxsie And The Banshees)
Estão as pessoas perdendo a sanidade por conta da internet? Está a sociedade doente como um todo por causa do ódio já arraigado nas redes sociais? Os cidadãos estão coletivamente psicológica e mentalmente afetados como jamais se viu na história justamente pelo excesso de informações? De informações não transformadas em conhecimento? Do medo do diferente? Do medo de não fazer parte? Do medo de não estar entendendo nada? Do medo de que suas opiniões fabricadas quase que criminosamente não correspondam à realidade? Da necessidade de ter razão em tudo? Da deficiência em saber discordar civilizadamente?
Os episódios envolvendo Adélio Bispo, autor do atentado contra Jair Bolsonaro, e, na semana passada, Tiago França, o homem que queria matar o ministro Alexandre de Moraes e se suicidou em frente ao STF, são exemplos extremos do impacto que o excesso de informações falsas ou descontextualizadas pode ter sobre a psique humana. Esses casos convergem para um ponto central: a capacidade destrutiva das redes sociais e aplicativos de mensagens, que muitas vezes funcionam como amplificadores de ódio, paranoia e desinformação.
As pessoas estão sendo bombardeadas diariamente por dados, opiniões e notícias, muitas vezes sem qualquer filtro ou análise crítica. O problema não está na informação em si, mas na forma como ela é manipulada e consumida. Em vez de contribuir para o conhecimento, esse excesso cria confusão e ansiedade. Notícias falsas, teorias conspiratórias e narrativas distorcidas encontram terreno fértil em mentes vulneráveis, alimentando medos irracionais e comportamentos extremos.
O império da conveniência
O que leva alguém a acreditar que um atentado contra uma figura pública seja a única solução possível? A resposta está, em grande parte, no ambiente tóxico e polarizado das redes sociais, onde a verdade é frequentemente substituída pela conveniência narrativa. Grupos em aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, criam câmaras de eco onde os participantes são manipulados repetidamente pelas mesmas ideias, sem espaço para questionamentos ou contrapontos. Nesse contexto, as informações falsas ganham status de verdade absoluta, e a realidade se torna um reflexo distorcido de medos e preconceitos.
O problema não é exclusivo de um espectro político. Tanto à esquerda quanto à direita, há exemplos de como o discurso de ódio e a desinformação podem radicalizar indivíduos e transformá-los em instrumentos de violência. A transformação digital trouxe a democratização da comunicação, mas gerou novos desafios para a sociedade, entre eles a dificuldade de separar o real do imaginário, o verdadeiro do falso.
Obrigações coletivas
Adélio e Tiu França são exemplos de como a falta de senso crítico pode levar a ações extremas e de um reflexo de um problema mais amplo: o adoecimento coletivo causado pelo uso irresponsável da internet, que se manifesta também em comportamentos cotidianos de intolerância, de necessidade de “cancelar” quem pensa diferente e de incapacidade de manter diálogos civilizados.
As plataformas digitais têm um papel fundamental nesse processo. Elas precisam ser mais proativas no combate à desinformação, implementando ferramentas eficazes para identificar e bloquear conteúdos falsos ou prejudiciais. No entanto, a responsabilidade não é apenas das empresas de tecnologia. Cada usuário tem o dever de praticar a empatia e o pensamento crítico, questionando as informações recebidas. E, como sempre digo, também das escolas, que devem preparar melhor professores, alunos e pais para esse novo mundo.
Adélios e Tius Franças não são apenas personagens de histórias trágicas, mas sintomas de uma sociedade em crise, que precisa urgentemente reencontrar o equilíbrio entre a liberdade de expressão e a responsabilidade social.