♫ “Eu não estou interessado em nenhuma teoria/ Nem nessas coisas do Oriente, romances astrais/ A minha alucinação é suportar o dia a dia/ E meu delírio é a experiência com coisas reais”♫ (Alucinação, Belchior)
Vivemos na era da informação, onde o acesso a dados e notícias é praticamente ilimitado. No entanto, essa abundância informacional tem gerado um fenômeno preocupante: a neurose coletiva, um estado de ansiedade e confusão generalizada, alimentado pelo excesso de informações, muitas vezes contraditórias ou falsas, que circulam principalmente nas redes sociais. Muitas informações, muitas delas falsas, as tais fake news, e muita dificuldade de separar o joio do trigo (por inúmeras razões).
Um exemplo emblemático desse fenômeno é a recente comoção em torno dos bebês reborn. Essas bonecas hiper-realistas, feitas de silicone e pintadas à mão para se assemelhar a recém-nascidos, tornaram-se objeto de fascínio e controvérsia. Algumas pessoas passaram a se comportar como se esses bonecos fossem, de fato, bebês reais, gerando debates acalorados e, em alguns casos, até denúncias infundadas às autoridades.
Breves parênteses
Muitos anos atrás, minha avó foi acometida supostamente de Alzheimer. Chegou a um determinado momento que nem sempre reconhecia os próprios filhos. A neta dela, minha filha, tinha uma bonecona que parecia um bebê para os mais desatentos. Nem se compara à qualidade e perfeição dessas bonecas reborn de hoje. Era um brinquedo, apenas.
Mas aquele brinquedo, por algum motivo, acalmava minha avó e, naqueles últimos anos dela, foi um instrumento importante para um certo conforto psicológico dela (se cometi alguma impropriedade técnica aqui, os psiquiatras e psicólogos me perdoem).
Em resumo, acredito que essas bonecas, as que parecem bebês de verdade, devem ter algum valor terapêutico em determinadas situações. E nem vou entrar na onda dos bichinhos virtuais Tamagochis (essa, sim, uma onda verdadeira, e não essa marola dos bebês reborn).
Realidade e ficção
Atualmente, porém, estão pipocando notícias de pessoas, normalmente mulheres, que se comportam como se as tais bonecas reborn fossem crianças de verdade, a ponto de acordar de madrugada para dar mamadeira ou trocar fralda, levá-las em postos de saúde ou atendimento médico e discutir guarda e alimentos. Mas será que essas notícias são mesmo verdadeiras?
Essa situação ilustra como a dificuldade em distinguir entre realidade e ficção pode levar a reações desproporcionais. A proliferação de fake news contribui significativamente para esse cenário. Informações falsas, muitas vezes sensacionalistas, são compartilhadas sem verificação, alimentando medos e inseguranças coletivas.
Estudos indicam que a exposição constante a notícias falsas pode impactar negativamente a saúde mental, aumentando níveis de ansiedade e estresse. A dificuldade em processar e filtrar a avalanche de informações disponíveis pode levar a uma sensação de impotência e desorientação, características típicas da neurose coletiva.
Para mitigar esses efeitos, é essencial promover a educação midiática, incentivando a população a desenvolver habilidades críticas para avaliar a veracidade das informações. E não se pode subestimar as responsabilidades das plataformas digitais, especialmente das de redes sociais.
Em um mundo onde a linha entre o real e o fictício torna-se cada vez mais tênue, é imperativo cultivar a capacidade de discernimento e promover o bem-estar coletivo por meio de uma informação responsável e consciente.