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A nova velha – Alexandre Garcia

Por: Alexandre Garcia

15/08/2024 - 06:08

 

Nessa segunda-feira fez 40 anos que o PMDB, em convenção nacional, escolheu a chapa Tancredo Neves e José Sarney para a sucessão de João Figueiredo, e para concorrer com a chapa governista Paulo Maluf-Flávio Marcílio. Tancredo me contou que, a pedido de Ernesto Geisel, fora a Montevidéu convencer o então vice-presidente João Goulart a aceitar o parlamentarismo, para poder voltar ao país e assumir a presidência, surpreendido que fora, enquanto estava na China, com a renúncia do Presidente Jânio Quadros. Já Sarney, o vice da chapa, tinha sido da UDN, partido da direita; depois ingressou no partido criado pelo movimento de 1964, a ARENA, onde ficou por todo o governo militar, até a mudança de nome para PDS, de que foi presidente. No ocaso do governo militar, participou da criação da Frente Liberal, que se tornou PFL, e filiou-se ao opositor PMDB, para ser candidato a vice – e se tornar, por cinco anos, o primeiro presidente após período militar.

Não sei se os leitores que não testemunharam isso, como eu testemunhei, vão entender. Creio que não, porque até para quem viu, há dificuldade de encontrar a lógica. Saio com uma vantagem: já não me surpreendo com o que vejo. No dia em que nasci, o ditador Getúlio Vargas baixava um decreto-lei para ele próprio nomear o Presidente do Supremo. E o que ele nomeou, quando Getúlio foi derrubado e o Congresso estava fechado, foi indicado pelos militares para ser presidente interino. Era José Linhares, que aproveitou para nomear tantos parentes, que o trocadilho em voga era Os Linhares são milhares.

Já não me surpreendo nem mesmo quando o próprio nome do país perde o significado, porque República Federativa do Brasil reduz-se a um rótulo escrito na Constituição, como muitos outros, já que na prática é uma república unitária, pois os estados têm pouca autonomia e dependem de recursos e da boa-vontade do governo federal. Aliás, se a gente for ampliar a exigência, vai achar que República também é marca de fantasia. Tanto quanto foi a marca de Nova República, nascida há 40 anos.

A nova república repete a velha em seus defeitos e tem outros, como, por exemplo, a mistura do chamado crime organizado com a política. Além disso, tivemos a lava-jato da nossa desesperança. Sonhávamos com o fim da impunidade entre os corruptos. E agora os eleitores recebem de novo resultados das convenções partidárias para a eleição municipal de 6 de outubro com a mesma surpresa risível com que nós, jornalistas, acompanhamos a mistura improvável de gente antes antagônica, na convenção de 40 anos atrás. Nomeadores de gente no serviço público, como Linhares, estão aqui, enchendo as folhas de pagamento e os ministérios. E ainda temos “Getúlio Vargas” como há quase 84 anos, inventando decisões acima da Constituição. Pagamos pelo pecado da passividade e desinteresse pela política. E como lembrei acima, naquele tempo de Vargas não havia legislativo. Hoje o Congresso está ficando tão significativo quanto o rótulo de federativa, na República do Brasil, a Nova.

 

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Alexandre Garcia

Jornalista com décadas de atuação na TV e rádio. A coluna aborda temas do cotidiano, entre eles comportamento, política e economia.