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A morte do Papa Francisco e a divisão ideológica entre condolência e ódio

Por: Editorial

23/04/2025 - 06:04

 

A morte do Papa Francisco, líder máximo da Igreja Católica, deveria ser um momento de luto e reflexão para mais de um bilhão de fiéis. No entanto, o que se vê é a transformação de sua figura em mais um campo de batalha ideológica, onde direita e esquerda disputam sua memória e o direito de definir quem pode ou não chorar sua partida. A religião, que deveria ser um espaço de transcendência e união, tornou-se mais um palco de polarização rasa, onde o fanatismo substitui a espiritualidade e o ódio fala mais alto que a compaixão.

Francisco, desde o início de seu pontificado, foi alvo de ataques ferrenhos de ambos os extremos. Para a direita ultraconservadora, ele era um “comunista”, um traidor da tradição por defender os pobres e criticar o capitalismo selvagem. Para a esquerda radical, era um hipócrita, incapaz de romper completamente com dogmas considerados retrógrados. Nenhum dos lados enxergou nele um pastor, um homem que, dentro de suas limitações humanas e institucionais, tentou equilibrar doutrina e misericórdia. O resultado? Agora, até sua morte é instrumentalizada. Uns celebram, como se a morte de um idoso de 88 anos fosse uma vitória política. Outros o canonizam prematuramente, ignorando qualquer nuance crítica.

O problema vai além do catolicismo. Vivemos uma era em que a razão esvanece, substituída por uma mentalidade tribal onde tudo, inclusive a fé, deve ser rotulado. Não há mais espaço para o contraditório, para a complexidade e para um pensamento mais amplo. Ou o Papa é santo ou é herege. Ou está conosco ou contra nós. Essa lógica maniqueísta empobrece o debate religioso e filosófico, e revela uma deterioração cognitiva coletiva. As pessoas já não pensam, apenas reproduzem chavões e ataques que surfam a onda das redes sociais, berço da superficialidade e da preguiça existencial.

O cristianismo, em sua essência, prega o amor ao próximo, inclusive aos inimigos. Mas o que vemos hoje é uma inversão perversa: fiéis que se alegram com a dor alheia, que desejam a morte de quem pensa diferente, que transformam a religião e a política em arma de guerra. Se as figuras de líderes políticos e até de Papa, que deveriam simbolizar unidade, são esquartejadas pela histeria ideológica, o que resta da humanidade senão retornar à “Caverna de Platão”?

Enfim, são tempos sombrios, em que o fanatismo fala mais alto que o discernimento. E, nesse cenário, a morte de Francisco não é só o fim de um pontificado, mas um sintoma crível de que a humanidade está adoecendo existencialmente.

 

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