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A infeliz onda do cyberbullying

Foto: Freepik

Por: Raphael Rocha Lopes

18/02/2025 - 15:02 - Atualizada em: 18/02/2025 - 15:16

♫ “In the queue for lunch they take the piss, you’ve got no apetite/ And the rumour is you never go with boys and you are tight/ So they jab you with a fork, you drop the tray and go berserk/ While your cleaning up the mess the teacher’s looking up your skirt”♫ (Expectations; Belle And Sebastian)

Infelizmente, mais uma vez toco no assunto: cyberbullying que se origina na escola. Para quem ainda não sabe, cyberbullying é o nome dado ao assédio sistemático, bullying, feito por intermédio da internet, especialmente redes sociais e aplicativos de mensagens.

O caso que me faz voltar ao tema é esse recente ocorrido numa tradicional escola particular de São Paulo que culminou com 34 alunos suspensos e quatro expulsos por conta da criação de um grupo homofóbico, misógino e racista, organizado para intimidar colegas. O episódio, além de revoltante, é um reflexo de como o ambiente digital tem sido utilizado para perpetuar comportamentos que antes ficavam restritos ao espaço físico das escolas.

Crueldade potencializada

O cyberbullying é ainda mais cruel do que o bullying tradicional, pois não se limita a um horário ou espaço específico. Ele segue a vítima para dentro de casa, atravessa telas e invade sua privacidade. Não há um momento de trégua. Comentários ofensivos, difamação, exposição de fotos e vídeos sem consentimento e ameaças tornam-se constantes, deixando marcas profundas na autoestima e na saúde mental das vítimas.

Diante desse cenário, é essencial que as escolas adotem uma postura firme e preventiva. O combate ao cyberbullying começa com educação digital, ou seja, preparando os alunos a usarem a tecnologia de maneira responsável, ética e respeitosa. Trabalhar a empatia e o respeito às diferenças deveria, atualmente, ser parte do currículo escolar, para que os jovens entendam as consequências reais de suas ações no ambiente digital.

Além disso, as instituições de ensino precisam estabelecer canais seguros de denúncia, pelos quais as vítimas podem relatar abusos sem medo de represálias. A criação de protocolos claros para lidar com esses casos é indispensável para garantir que nenhuma denúncia fique sem resposta. O caso recente do Colégio Santa Cruz é um exemplo de como ações firmes são necessárias para responsabilizar aqueles que usam o ambiente digital como ferramenta de opressão.

Os pais

Mas não cabe apenas às escolas resolverem esse problema. Pais e responsáveis também têm um papel crucial. Acompanhar a vida digital dos filhos, estabelecer limites de uso da internet e ensinar sobre o impacto de cada ação online são atitudes fundamentais. O diálogo aberto dentro de casa pode evitar que crianças e adolescentes se tornem vítimas ou praticantes do cyberbullying. Mais do que punição, o que se busca é a conscientização. Prevenir é sempre mais eficaz do que remediar.

O caso comentado é um alerta: é necessário falar mais sobre cyberbullying, e com mais seriedade. Esse problema não pode ser tratado como brincadeira ou algo menor. As consequências são reais e devastadoras. Há claras diferenças entre meras brincadeiras de amigos e cyberbullying.

As redes sociais, por sua vez, também deveriam assumir sua responsabilidade. Ferramentas de denúncia precisam ser mais eficazes, e a moderação de conteúdo ofensivo deve ser aprimorada. Não basta apenas reagir quando casos extremos vêm à tona. O combate ao cyberbullying deve ser preventivo, com regras claras e mecanismos que protejam os usuários, especialmente os mais jovens.

Se há algo a se aprender com esse caso, é que não se pode normalizar a violência, inclusive a digital. O ambiente virtual não pode ser um espaço onde as pessoas se sintam livres para agredir, humilhar e excluir. A internet deve ser um ambiente de troca saudável, de aprendizado e de convivência respeitosa.

 

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.