Josemiro Otávio de Souza (ou simplesmente Otávio, como preferiu ser chamado quando adotou Jaraguá do Sul para viver, há uns 20 anos) sempre foi apontado como exemplo de empreendedor bem sucedido. Mecânico de formação, fazia questão de dizer que chegou à cidade com uma mão na frente e a outra atrás, sem eira nem beira, sem parentes importantes, e com apenas alguns trocados no bolso... Nos primeiros cinco anos, trabalhou duro e economizou ao máximo. Depois abriu a própria oficina, que gradativamente transformou numa grande revenda autorizada de automóveis, com filiais nos municípios vizinhos. “Otávio se fez sozinho, por méritos próprios!”, afirmam os empresários locais. Admirado e invejado por uns, era odiado por outros... Na empresa, sempre foi temido por seus funcionários, que eram controlados com mão-de-ferro. Afinal, para ele, o lucro sempre esteve em primeiro lugar! Jurou para si mesmo que chegaria “no topo” dos emergentes, custasse o que custasse! Para ele, os fins sempre justificavam os meios... Sua personalidade controvertida atraía muitos bajuladores, falsos amigos que ele deliberadamente manteve por vaidade e pela sensação inebriante de poder. Com isso, os amigos verdadeiros passaram a se afastar, um a um, aumentando cada vez mais a sua solidão. Sim! Já se iam longe os dias de pobreza, do pão com mortadela e do arroz com sardinha... Mas, por mais que Otávio se esforçasse em esquecer suas origens e tentasse se convencer de que fez a escolha certa, a sensação de vazio nunca o abandonou. Nessas ocasiões, relembrava da tarde chuvosa, quando chegou na cidade de mochila nas costas e encontrou um idoso que o intrigou. Nunca esqueceu suas palavras: “Já vi amigos morrerem de enfarte, derrame e todo tipo de doença porque só pensavam em trabalhar, acumular patrimônio... Não cometa esse erro!”, tinha dito o homem, antes de sumir, misteriosamente. Ontem Otávio saiu mais cedo da loja, para surpresa de todos. Um cansaço inexplicável o acometeu. Ao chegar em casa, sentiu uma forte dor no peito. Uma ambulância foi imediatamente acionada pela governanta, mas o empresário não resistiu e morreu a caminho do hospital... Pouco antes de morrer, Otávio viu a imagem do homem de cabelos grisalhos e voz de sábio: “Eu bem que avisei a você! Há coisas que o dinheiro não pode comprar...”