A arte do futuro, a inteligência artificial e o empobrecimento cultural

imagem: Vitória Borodinova/Pixabay

Por: Raphael Rocha Lopes

31/08/2022 - 11:08

 

“♫ Yes, there are two paths you can go by/ But in the long run/ There’s still time to change the road you’re on/ And it makes me wonder/ Oh, whoa, whoa, oh” (Stairway to heaven, Led Zeppelin).

Tem gente que acha que arte é ópio; tem gente que acha que arte é inútil; tem gente que acha que arte tem cor partidária; tem gente que nem sabe o que é arte, mas a detrata com euforia. Tem gente que esquece que arte e cultura andam juntas, e que cultura e educação também, logo… Bom, possivelmente tem gente que nem saiba o que é silogismo…

Outra coisa é gostar de arte, ou interpretar arte. O que para uma pessoa pode ser uma grande obra, para outra não passa de mera porcaria. A subjetividade é imanente à avaliação artística. Isso, óbvio, não significa que arte não tem valor. Ao contrário, reforça a teoria que diversidade cultural constrói pessoas e países – por mais que haja gente lutando contra essa lógica. Uma nação se constrói com valorização de todos os segmentos do conhecimento.

Robôs artistas.

A inteligência artificial está permeando a vida de todos nós já há algum tempo. E, ao que tudo indica, o fará cada vez mais, influenciando nossas decisões mais simples, como a escolha de um filme ou livro, até questões de alta complexidade, como o diagnóstico e o tratamento de alguma doença séria.

Mas será que os robôs também conseguirão fazer arte de qualidade?

Essa pergunta vem atormentando muita gente, de estudiosos da tecnologia a filósofos e artistas. Sim, já se pode encontrar robôs que compõem música erudita de qualidade (segundo quem entende), escrevem livros, pintam quadros e preparam pratos dignos de chefs.

Alguns defendem que isso não é arte, mas apenas uma combinação de algoritmos programados que simulam comportamento humano, apesar de projeções de que um livro escrito por inteligência artificial estará entre os best sellers mundiais em poucas décadas. Mas, afinal, não somos todos nós algoritmos?

Homens mais burros x máquinas mais inteligentes

Se o desenvolvimento da inteligência, da compreensão e da sensibilidade cultural depende de muitas questões, estando no seu cerne o acúmulo de conhecimento, o que esperar de gerações que parecem se preocupar cada vez menos com leituras e músicas de qualidade, contemplação, reflexão e dedução fundamentada?

Por outro lado, o que esperar de máquinas que estão com aprendizado cada vez mais sofisticado, caminhando a passos largos para mais conhecimentos adquiridos decorrentes de seus próprios conhecimentos iniciais, pós-programados, com menos interferência humana?

Se um dia chegaremos no tempo das máquinas com verdadeira sensibilidade artística, não sei, mas tendo a acreditar que sim. Contudo, se esta era chegar ao mesmo tempo em que a humanidade continuar se vangloriando do seu próprio empobrecimento cultural, há que se temer por tempos bem mais sombrios do que os das ficções do Grande Irmão, Hal, Roy Batt, Stephen Byerley ou Skynet.

Sim, há dois caminhos a longo prazo… e isso me faz pensar!

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Raphael Rocha Lopes

Advogado, autor, professor e palestrante focado na transformação digital da sociedade. Especializado em Direito Civil e atuante no Direito Digital e Empresarial, Raphael Rocha Lopes versa sobre as consequências da transformação digital no comportamento da sociedade e no direito digital. É professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário Católica Santa Catarina e membro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs.