“Advento do inevitável: sexo com bonecas”

Por: Raphael Rocha Lopes

18/08/2020 - 15:08 - Atualizada em: 18/08/2020 - 15:20

“♫ Amor é um livro/ Sexo é esporte/
Sexo é escolha/ Amor é sorte/
Amor é pensamento, teorema/
Amor é novela/ Sexo é cinema.”
(Amor e sexo, Rita Lee).

Os relacionamentos também têm sofrido mudanças ao longo dos tempos por conta da tecnologia. Ninguém (ou quase ninguém) manda mais cartas de amor pelos correios. A beleza da escrita e da caligrafia tem se perdido: das máquinas de escrever aos emojis das mensagens nos celulares.

E o sexo, aquela relação carnal entre pessoas, também mudará ou é uma fonte de prazer eternamente imutável?

Aplicativos x baladas

Muitas transformações nos negócios tradicionais ocorreram por causa da disrupção, da inovação, das plataformas digitais. Os exemplos mais utilizados são dos táxis em decorrência de aplicativos como Uber e 99 e dos hotéis em relação ao AirBnB.

Mas não só. As baladas e até as “casas de tolerância” (essa é velha!!) tiveram que se reinventar. Antes as pessoas tinham que ir a esses lugares para fazer os contatos, conhecerem-se, decidirem. Depois vieram os chats na internet, os aplicativos de mensagens e… os aplicativos de namoro. O Tinder e afins estão para as baladas como o Uber para os táxis…

Sexo, reprodução e robôs.

Aldous Huxley, no seu espetacular Admirável Mundo Novo, de 1932, previu um futuro em que as pessoas são reproduzidas em laboratório. O sexo, a quem pode fazer sexo, é para o prazer, apenas.

Em perspectiva atual, há algum tempo já existem bonecas (infláveis ou não) para o sexo. E bonecos também, para a satisfação das mulheres. Esse mercado cresce e nos últimos anos deu um pulo enorme. As bonecas (e os bonecos) estão cada vez mais perfeitos: o cliente pode escolher praticamente tudo em relação às medidas do corpo, cor da pele, dos olhos ou do cabelo.

Estão, inclusive, desenvolvendo inteligência artificial para esses bonecos. Serão robôs em corpos (quase) perfeitos que interagirão com seus parceiros/proprietários. Dá para escolher, inclusive, o tipo de personalidade do boneco/a: intelectual, alegre, assanhado/a…

Foi de uma boneca dessas que ouvi, em um documentário, o comentário do título: a colisão entre humanidade e tecnologia é um advento inevitável. Séries como Westworld, da HBO, e Black Mirror, da Netflix, mostram na ficção o que está ocorrendo na vida real.

Há muita discussão sobre o tema, se é bom ou ruim, se é a objetificação da mulher (o mercado das bonecas sexuais é infinitamente maior do que o de bonecos, por enquanto), se ajuda pessoas com dificuldades de relacionamento, se estamos nos desumanizando. Aventa-se, inclusive, o banimento dos robôs sexuais.

O fato é que os robôs de sexo são apenas uma ponta de um mercado (de brinquedos sexuais) que movimenta, mundialmente, algo entre US$ 15 e US$ 18 bilhões por ano, podendo chegar a US$ 50 bi em menos quatro anos.

Não sei se foi pensando nisso tudo que Rita Lee cantou que “amor é bossa nova, sexo é carnaval”…