Vereadora quer garantir 30% dos cargos no Executivo para mulheres

Por: Elissandro Sutil

04/06/2016 - 04:06

 

A emancipação das mulheres na sociedade é uma conquista que merece ser comemorada, porém, a reivindicação por igualdade, por superação da estereotipia dos gêneros e das barreiras cegas que ela impõe, continua sendo luta diária e importante. Se hoje as mulheres atuam na produção nacional em patamar equivalente aos homens, embora tenham salários menores, e tenham até mais anos de estudos em relação a eles, a participação das mulheres na política, por exemplo, está longe da igualdade proposta pela Constituição. Isso, resultado de um passado machista e discriminatório e de um presente ainda nebuloso.

Embora representem a maior parte do eleitorado, as vozes femininas alcançam apenas 10% dos cargos políticos no país. E segundo um levantamento deste ano da União Interparlamentar, de um ranking composto por 191 países, o Brasil ocupa o vergonhoso 155º lugar em relação à representação da mulher no Poder Legislativo, perdendo para países como Bangladesh e Quirguistão.

 

Única representante do gênero na Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul, a vereadora Natália Petry (PMDB) afirma que a princípio é contra a segmentação da sociedade, porém, acredita que a realidade exige leis que garantam os direitos a quem de alguma maneira está sendo excluído. Antes de abordar o assunto com a parlamentar, fiz um levantamento, com auxílio da assessoria de gabinete, sobre dados que comprovam que se a questão é eficiência, as mulheres podem estar mal representadas em número, mas não em qualidade.

Natália Petry é a parlamentar mais atuante da Casa. Foi ela quem garantiu a realização do concurso público para acabar com uma irregularidade cometida há anos pelo Legislativo que dava preferência para indicações políticas. Também foi Natália que encabeçou movimento contrário ao aumento no número de vereadores e contra a compra de sede própria. Foi a parlamentar ainda que intermediou as negociações salariais entre o sindicato dos servidores públicos e o Executivo em um ano de recessão econômica. Levam assinatura dela 29 projetos de Lei Orgânica, entre eles, o que pretende acabar com o emaranhado de fios nos postes, o que prevê a Parada Segura no transporte coletivo para mulheres e idosos. Também é dela o projeto Câmara.Com que leva noções de política e cidadania aos alunos do município. A vereadora também apresentou 376 indicações à Prefeitura. Embora não tenha feito de seu mandato uma defesa clara da necessidade de se dar mais espaço às mulheres, Natália promete apresentar nas próximas semanas projeto de lei que reserva 30% dos cargos no Executivo para as mulheres.

Em tempos onde a política anda tão desacreditada, é preciso ressaltar a importância dela para vida de todos e também lembrar que o pluralismo político é um dos pilares para a consolidação da democracia. Se a escolha do voto não deve ser uma questão de gênero tão pouco deve ser ignorado que não faltam mulheres competentes em todos os segmentos da sociedade. Garantir condições equânimes de sucesso para as candidaturas femininas é sim um passo importante para se dar. E os partidos, a grande maioria comandado por homens, têm imensa responsabilidade no processo.

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2015_03_26 - Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul - Natalia Petry - Piero Ragazzi (17)

Única representante do gênero na Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul, a vereadora Natália Petry (PMDB) afirma que a princípio é contra a segmentação da sociedade, porém, acredita que a realidade exige leis que garantam os direitos a quem de alguma maneira está sendo excluído. Antes de abordar o assunto com a parlamentar, a coluna fez um levantamento, com auxílio da assessoria de gabinete, sobre dados que comprovam, se a questão é eficiência, as mulheres podem estar mal representadas em número, mas não em qualidade.

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Vereadora, como avalia a pesquisa que mostrou que o Brasil ocupa 155ª posição entre 191 países no quesito de representação feminina no Legislativo?
As mulheres começaram a votar há pouco tempo no Brasil. Não gosto de parecer agressiva, mas a verdade é que a nossa cultura ainda é muito machista. A predominância é absoluta dos homens nas Câmaras, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. E no Executivo não é diferente. Essa lei, por exemplo, que obriga que 30% das candidaturas sejam de mulheres. Se quisessem mesmo garantir mais espaço, destinariam 30% das cadeiras e não das candidaturas.

Em Florianópolis, projeto de lei determina que 30% das vagas no Executivo sejam ocupadas por mulheres. O que pensa da iniciativa?
Já tínhamos conversado sobre isso, minha intenção era já ter apresentado esse projeto. Mas ainda dá tempo. Vou propor nas próximas semanas. Gostaria que a nossa sociedade fosse madura e que não precisássemos deste tipo de instrumento, mas ainda é necessário sim. Temos muitas mulheres competentes esperando uma oportunidade. E se tivesse poder, faria com que 30% das cadeiras do Legislativo fossem ocupadas por mulheres. A média é de menos de 10% de representatividade feminina, temos que mudar este paradigma. A importância de ter mais mulheres na política e justamente fazer com que as mulheres sejam representadas.

As mulheres precisam se esforçar em dobro para ocupar o mesmo espaço que os homens ocupam naturalmente?
Sem dúvida. Hoje eu já conquistei meu espaço. Mas tive muitas lutas. E essa dificuldade se vê na esfera pública e privada. Nas grandes empresas, e temos muitas na região, também as mulheres são uma minoria nos cargos de direção, o que é uma pena.