Só o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) não basta. O Brasil precisa mudar para valer. Precisa ao mesmo tempo de reformas estruturantes como a da Previdência, Trabalhista, Tributária e de um novo Pacto Federativo, como necessita também mudar a forma de fazer política e de priorizar os recursos públicos. Nem Michel Temer (PMDB) e nem outro presidente qualquer conseguirá dar conta de um desafio deste tamanho sozinho. O afastamento de Dilma, embora comemorado pela maioria da população, deixará cicatrizes e por um tempo aumentará o clima de rivalidade no país.
Para minimizar o risco de cair no descrédito, Temer terá que rapidamente transformar a esperança em ação. Embora em lados ideológicos opostos, tanto quem acredita que o impeachment foi um livramento, tanto aqueles que dizem que foi golpe, querem o melhor para o Brasil, uma nação que ofereça horizonte diferente e mais digno para as próximas gerações. Afinal, não há quem não queira se orgulhar da ‘pátria amada’.
Para o setor produtivo, o impeachment mostra que contas equilibradas, inflação baixa e sob controle, incentivo à produção e desburocratização são primordiais. Resta saber se o PMDB levará, estando no poder, estes conceitos ao pé da letra.
A política brasileira ainda é muito rasteira. O jogo por cargos, espaços, verbas, privilégios e egos muitas vezes é encarado como prioridade por quem deveria ter a consciência de que ocupar espaço público só tem sentido se for para servir ao país e não se servir dele. O governo de ‘salvação nacional’ terá que primeiro estancar a sangria econômica, recuperar a confiança do setor produtivo e voltar a gerar um clima que favoreça a geração de emprego, mas todo esse processo doloroso para a democracia só fará sentido se Temer conseguir ir mais fundo, deixar heranças concretas para a construção de um futuro melhor.
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“É preciso priorizar a economia”
O deputado federal Mauro Mariani (PMDB) será o principal interlocutor do Estado junto ao novo presidente Michel Temer (PMDB). Sem representante no Ministério anunciado ontem, Santa Catarina teve o maior percentual de rejeição do país à reeleição de Dilma Rousseff. Para Mariani, exigir cargos nesse momento, porém, seria atrapalhar o governo que inicia com a aura de esperança de trazer dias melhores ao povo brasileiro. Sobre o momento político histórico enfrentado pelo país, Mariani conversou ontem por telefone com a coluna:
Como o senhor avalia o Ministério anunciado por Temer?
É preciso considerar que o sistema político exige governabilidade. A área econômica é a que mais importa nesse momento. Com o devido respeito aos outros ministérios, não adianta nada, ninguém vai fazer nada, se a economia não voltar a melhorar. Nesse momento, a prioridade absoluta é sinalizar positivamente para o mercado. Temos que nos preocupar com os 11 milhões de desempregados, com as milhares de empresas que fecharam e as outras que estão prestes a seguir o mesmo caminho.
Santa Catarina, mesmo sendo o Estado onde o PT conquistou o menor percentual de votos, não aparece, nesse momento, no primeiro escalão.
Como presidente do PMDB de Santa Catarina, levei a nossa mensagem ao Temer. Não estamos preocupados com cargos, ninguém precisa de emprego. Não vamos atrapalhar, queremos ser parte da solução.
Acredita que o novo governo vai conseguir fazer as reformas tão esperadas em curto espaço de tempo?
Isso não vai acontecer de imediato. São embates duros. Mexer na Previdência, por exemplo, não é tão simples assim. Primeiro é preciso priorizar a economia. O novo governo vai levar um tempo só para entender o que está acontecendo, para se inteirar do rombo. A partir do próximo ano, as reformas podem voltar ao debate.
É possível dar mais rapidez ao julgamento final do impeachment no Senado?
Não é preciso, isso não importa. O governo Dilma acabou, foi enterrado.
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“Dias difíceis virão pela frente”
Realista, o senador Paulo Bauer (PSDB), alerta. “O Brasil não vai mudar do dia para noite”. A crise econômica, política e de credibilidade é grande, por isso, o tucano diz que os brasileiros terão que ter paciência com o governo Michel Temer (PMDB). O presidente interino terá que mostrar, segundo o tucano, que tem capacidade para o diálogo e para conduzir o país rumo às mudanças.
Como o senhor avaliou o anúncio do novo Ministério?
É preciso considerar o momento. Temer é um presidente interino. Se cercou de gente em quem confia e que lhe irá emprestar credibilidade.
Que ações o país deve esperar?
Será preciso ter um pouco de paciência. A sociedade tem que saber que antes das notícias boas, virão as ruins. A crise é grande, de credibilidade, política e econômica. É preciso atravessar o nevoeiro. Mas espero que Temer mantenha a decisão de diminuir o número de ministérios e cargos. Também terá que anunciar medidas na economia, para diminuir o desemprego, baixar os juros e conter a inflação. Depois da estabilidade, vem o crescimento.
Mas já se fala em aumento de impostos.
O Temer tem dois caminhos. Pode conter os gastos ou aumentar os impostos. Espero que ele faça a primeira opção. O governo terá também que reduzir o déficit das contas públicas, que está projetado em R$ 200 milhões este ano.
Depois de 13 anos, o impeachment, a cena de Dilma e Lula saindo do Planalto, é o fim do PT?
Sem dúvida, o PT sofreu um grande baque. O PT vai voltar a ser do tamanho que sempre foi. Não soube dialogar, não manteve os aliados, não construiu um projeto de gestão. O PT só gosta de quem lhe é simpático: desempregados, carentes, integrantes de movimentos sociais, de entidades como a CUT e filiados. O PT vai sobreviver, mas vai voltar a ser do tamanho que sempre foi.
As reformas tão esperadas virão?
Nesse momento não. Depois do fim do processo do impeachment, acredito que sim.
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