“Tudo que tem de bom na iniciativa privada estamos trazendo para o setor público”, defendeu o empresário e prefeito de Jaraguá do Sul, Antídio Lunelli, em apresentação realizada nesta segunda-feira no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul (Cejas), onde acompanhado de seu vice, Udo Wagner, e de secretários, apresentou as principais ações de cada pasta referentes aos primeiros cem dias de sua administração.
A plenária foi marcada por um tom formal, com uma plateia composta por empresários, servidores comissionados e efetivos. Já na apresentação, o prefeito citou os 30 dias de greve dos servidores públicos municipais como uma barreira a mais nos primeiros dias de seu governo. E voltou a deixar claro que sua intenção é ‘arrumar a casa’.
O anúncio de maior impacto é que a administração municipal começou a pagar as contas em dia. Segundo Lunelli, o salário dos servidores só não foi atrasado antes porque os fornecedores não estavam recebendo. Já a maior expectativa está nas ações que devem ser finalizadas até o fim do primeiro semestre, como a efetivação da central de compras, as compras por pregão, a realização de um leilão de imóveis, a implantação de ponto eletrônico integrado, a certidão negativa digital, a conclusão da revisão do Plano Diretor e, depois disso, a revisão da planta genérica de valores. São medidas que desburocratizam a máquina pública e ajudam no equilíbrio das receitas e despesas.
Se Antídio Lunelli conseguir tirar do papel todos os projetos que estão sendo propagados, com certeza terá dadas um passo importante para modernizar a Prefeitura e torná-la um agente facilitador para comunidade. Ele só não pode esquecer qual é a função básica do serviço público e o que a população espera dele.
Bate-boca com servidores
Apesar da nítida diferença de clima entre a apresentação feita em fevereiro e a desta segunda, a plenária do Cejas com o prefeito Antídio Lunelli transcorria bem e se encaminhava para o final quando o presidente do Cejas, Giuliano Donini, leu uma pergunta de um servidor. O questionamento versava sobre o risco de a atual administração comprometer a qualidade e os bons índices conquistados pela educação da rede municipal com a política de cortes adotada pela administração municipal, com o aval da Câmara de Vereadores.
Visivelmente irritado, o prefeito se levantou e voltou a discursar sobre os problemas da máquina pública. Disse que servidor não faz parte de uma casta de intocáveis e reforçou a ideia de que todo mundo precisa pagar a conta da crise. Afirmou que pretende fazer ‘gestão com justiça’ e um controle idêntico ao praticado na iniciativa privada. Questinou até mesmo a carga horária da categoria, dizendo que “a lei está errada”.
Lunelli disse ainda que a estabilidade no serviço público é o câncer do país. Os servidores rebateram citando que a corrupção como o grande mal da nação. Aplaudido por alguns e vaiado por outros, o empresário não respondeu ao questionamento. Um servidor se levantou e começou a fazer críticas à administração. Foi quando Donini precisou intervir e pedir calma, tanto à plateia quanto ao prefeito. A assessoria do prefeito diz que ele não deve se manifestar oficialmente sobre o ocorrido, já que há um processo pessoal dele contra o servidor que o questionou, por ofensas e ataques pessoais durante a greve.
“Existe um caminho, há ainda muita
estrada para percorrer. A expectativa é que
entre o sexto e sétimo mês aconteçam os
projetos para dar mais dinamismo para cidade.”
Avaliação do presidente do Cejas, Giuliano Donini, ao avaliar que os 100 primeiros dias do governo Antídio Lunelli foram fortemente marcados por uma greve histórica no município
Financiamento internacional
Com a dura missão de buscar recursos para obras de vulto, o vice-prefeito e secretário de Desenvolvimento Econômico, Udo Wagner (PP), disse não ver saída que não seja a busca por um financiamento internacional. Sem citar detalhes, afirmou que a pasta já fez uma carta consulta e que espera em no máximo dois anos ter dinheiro para realizar grandes obras. Citou como exemplo o projeto da Ciclovia do Trabalhador e a revitalização do calçadão.
Compra de vagas em creches
Lunelli anunciou a compra de vagas nas creches para ajudar a suprir uma demanda que ultrapassa 800 crianças na fila de espera. Segundo o secretário Rogério Jung, o projeto deve ser enviado para Câmara em maio para a licitação acontecer dentro de até 60 dias. Em princípio, serão 100 vagas adquiridas do maternal e berçário de entidades sem fins lucrativos, como o Sesc. Conforme levantamento da Prefeitura, enquanto na rede pública uma criança custa R$ 1,1 mil, na rede privada a conta seria de R$ 650.
Queda do ICMS preocupa
Uma das projeções apresentadas pelo secretário Argos Burgardt mostrou a curva em declínio do repasse do ICMS recebido pelo município. Na comparação, a Prefeitura recebeu do Estado em 2011 R$ 133 milhões do imposto. Este ano, a estimativa é de um número menor, R$ 132 milhões. A queda no percentual de rateio a que o município tem direito é o principal causador da queda. Em 2011, Jaraguá recebia 4,27% do bolo dividido entre as cidades catarinenses, hoje o percentual está em 3,07%.
Dívida com o Issem
Nenhum integrante da administração falou sobre possível mudança no Issem. A preocupação é com a dívida deixada por governos da década anterior. São mais de R$ 144 milhões de contribuição que a Prefeitura deixou de recolher e que agora precisa pagar. A intenção é renegociar a forma de pagamento e a amortização dos juros com a Previdência.
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