“Os virulentos personagens pandêmicos que minam a paciência”

Por: Nelson Luiz Pereira

14/08/2020 - 17:08 - Atualizada em: 14/08/2020 - 17:15

Em tempos de pandemia, conjugados com a pressa, ansiedade e estresse, muitos se tornam um pouco médicos, um pouco cientistas, um pouco conselheiros, um pouco curandeiros. Quase todos se tornam um pouco professores, um pouco filósofos, um pouco psicólogos. Absolutamente todos, se tornam um pouco, ou muito, políticos. Em tempos de pandemia, não há quem não incorpore um personagem do gênero ficção. O ‘sintomaníaco’; o ‘assintomaníaco’ ou o ‘imunemaníaco’.

Por outro lado, em tempos de pandemia, quase ninguém incorpora a paciência, uma das virtudes mais escassas nos dias de hoje. A paciência a que me reporto, não tem a ver com passividade. Quero me referir a paciência como prática emocionalmente libertadora. É bem verdade que a carga pesada das frustrações do cotidiano, são inevitáveis. Um trânsito congestionado; um cachorro do vizinho que não para de latir; aquela pessoa, que ao você falar, não lhe dirige o olhar; aquela lata de cerveja que ao abrir quebra o lacre; aquele sem-noção que, ao estacionar, ocupa duas vagas; os bacanas que estacionam em vagas de idosos; os néscios que não respeitam a faixa de pedestre; os boçais do ‘bate-estaca’ no limite dos decibéis. Adiciona-se a este indigesto caldo, os enfadonhos das redes sociais.

Os ‘malas’ que lhe entorpece de fake News 24 horas por dia; os pedintes de jogos virtuais; os memers; as loucas das selfies e os bombados tipo “olhem o tamanho do meu gato”; dentre tantos outros motivos que, cotidianamente, agem como antídoto neutralizador da paciência. Revela-se então, o grande paradoxo dos nossos tempos: desequilibradamente nos distanciamos do que mais precisamos para nos equilibrar.

Em tempos de pandemia, se a cloroquina previne, a paciência cura. No entanto, se o ritmo vertiginoso no qual reina a pressa e a urgência, é o que rege a orquestra, então a música, que seria a paciência, continuará desafinada. A paciência, harmonizada com serenidade e tolerância, tem o poder de suplantar qualquer medicamento químico. Que possamos nos valer da pandemia para explorar e exercitar a tão ignorada paciência