“O que perdi com a morte da Rainha”

Por: Nelson Luiz Pereira

18/09/2022 - 20:09 - Atualizada em: 18/09/2022 - 20:56

Sinceramente, não esperava a morte prematura da Rainha Elizabeth II. Confesso que gostava daquela ‘veinha.’ Digo prematura porque na ocasião da morte do baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, em agosto de 2021, aos 80 anos, eu numa roda de café com bobagens, apostara que a monarca britânica enterraria, também, os outros três Stones, e nessa ordem: Mick Jagger, Ronnie Wood e, por último, Keith Richards. A aposta consistiu em um vale livro e uma rodada de café. O brother que aceitou minha aposta, me alertou: “não esqueça que o Keith é 17 anos mais novo que a Rainha hein?”

Ao que retruquei: “estou ciente disso, porém, a falecida matriarca tem ‘sangue azul,’ já o Keith cheirou até as cinzas do próprio ‘véio’ pai, Bert Richards.” Acontece que um ano se passou e o tema do recente café com bobagens não poderia ter sido outro, senão, falar da monarquia imperial britânica, do funeral real, e pagar minha aposta, óbvio. Devo admitir que me sinto abaixo de súdito nesse assunto, por isso, enxergo tudo em duas perspectivas:

i) uma visão romantizada e semidivinizada da realeza, já que a longeva soberana teve o raro privilégio de viver como princesa e, ainda por cima, morrer como rainha; e ii) uma visão imperialista colonial, cuja história de exploração, domínio e opressão anexou, no auge do poder, quase meio planeta, a custa de subtração de inúmeras vidas. Tamanha influência valeu à mastodôntica realeza, o mote assim conhecido: “o sol nunca se põe no Império Britânico.”

Ocorre que, por ironia do destino, o sol passou a se pôr, quando outra estrela com maior brilho, desprovida de ouro e júbilo, projetou sombra sobre o império. Mahatma Gandhi, sem levantar um só dedo, tampouco a voz, libertou a Índia, desencadeando uma onda de independência por outras colônias ultramarinas e, por conseguinte, dando início ao declínio do império. No último século, as grandes e aceleradas transformações do mundo foram murchando a poderosa monarquia, convertendo-a numa abreviada “Família Real.”

Mas nem por isso “o Rei está nu.” O patrimônio da ‘família puro sangue,’ beira 1,5 trilhões de dólares. Enfim, meu olhar cômico romantizado diz que a venerável Rainha morreu mas não perdeu a majestade. Soube resistir as turbulências e honrar a coroa. Já, o filho sucessor, Charles III, deu mostras de que, literalmente, se ‘sentará no trono,’ mesmo porque, uma de suas manias bizarras, é o banheiro. A tampa do vaso sanitário deve estar sempre em posição de espera do traseiro, já que ele não a toca com as mãos. O papel higiênico precisa obedecer a uma marca específica. ‘God save the uncle king.’