“Jaraguá: minha terra prometida”

Por: Nelson Luiz Pereira

25/07/2021 - 22:07 - Atualizada em: 26/07/2021 - 08:16

Em uma terra prometida, o primeiro desafio é chegar, o qual cumpri em 1978. O segundo, e mais relevante, é nela permanecer. É preciso ser aceito. Entrar pelos fundos, se manter no canto e ‘não mexer em nada.’ Ou, ‘chegar de mansinho’. Conheço alguns que aqui chegaram feito um elefante entrando numa loja de cristais. Era minha primeira vez numa cidade grande e sisuda. A Jaraguá me olhou de cima a baixo em minha preliminar parada no bar do Oli, pra ‘sacodir a poeira’.

A cidade tinha em torno de 35 mil habitantes. O bar se situava em frente ao colégio Marista São Luís, na Avenida Marechal Deodoro da Fonseca. Me posicionei no extremo do balcão, próximo à parede. Os trocados que me restavam no bolso, davam para um pão com bolinho ou uma Brahma. O perfil dos frequentadores me recomendava a segunda opção. E assim foi. Mais tarde, já ambientado ao espaço etílico, soube que um brother frequentador do bar, havia se formado engenheiro nuclear no São Luís. Ou seja, havia reprovado 3 anos seguidos no 1º núcleo, por conta das paradinhas no Oli antes das aulas.

Já, minha primeira tentativa de ajuntamento, foi no Salão Cristo Rei. Lá, a Jaraguá me barrou na porta. A entrada era cara. Mas, no Salão União da Vila Lenzi, a Jaraguá me deixou entrar por ser free. Fui muito bem acolhido pelos brothers de meu bairro do coração, embora hoje eu more no Czerniewicz. Minha base de apoio inicial foi meu irmão Arno, que já estava iniciado na Urbe, e segurou as pontas enquanto eu garimpava, de porta em porta, um emprego. Dividíamos um quarto de república, tipo solitária, com 1 metro de largura por 3 de comprimento. Tragicamente, os dias se passavam sem que alguma porta se abrisse. As contas de subsistência se acumulavam.

A fome e o desespero começavam bater à porta. Decidi que no dia seguinte pegaria uma carona com destino a lugar nenhum. Em meus devaneios, se a terra prometida não me dava oportunidade, ao menos lá em lugar nenhum, não precisaria de nada. Passei aquela noite em claro, observando pela greta da parede, uma estrela que brilhava no céu. Imaginava ser lá o lugar nenhum. Viajaria o resto da vida para lá chegar, e nunca chegaria. Quando amanheceu, a Jaraguá bateu à minha porta e me comunicou uma vaga de trabalho numa grande empresa. De lá pra cá, eu e a Jaraguá nos tornamos almas gêmeas.