“Fogo no cinema”

Por: Nelson Luiz Pereira

02/08/2021 - 21:08 - Atualizada em: 02/08/2021 - 21:51

O Brasil sempre foi um país altamente inflamável. Penso que, via de regra, somos um povo incendiário. Ateamos fogo em quase tudo. Desde a política, alastrando-se pelas relações sociais, até à nossa própria memória. Por isso, para que eu não seja sapecado, vou me blindar de antemão. Minha crítica, aqui, não se reporta a governo a, b, ou c. Ela é atemporal e dirige-se à Nação (conjunto de características culturais, tradições, língua, costumes, memória histórica, entre outros fatores, que formam uma identidade nacional), ancorada num Estado Democrático de Direito.

A culpa é, portanto, desse conjunto. Pois bem, se sua memória não está chamuscada, deve lembrar-se que em dezembro de 2015 um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu da Língua Portuguesa, no histórico e deslumbrante edifício Estação da Luz, região central de São Paulo. Não deve ter esquecido, também, que em setembro de 2018 uma tragédia anunciada transformou em cinzas o Museu Nacional do Rio de Janeiro. As chamas lamberam aquele velho casarão abandonado, contendo um inestimável patrimônio histórico do Brasil e da humanidade.

Arderam lá, riquezas como a Sala dos Dinossauros; o Meteorito Bendegó; o Caixão de Sha Amun en su; o esqueleto do Angaturama Limai, maior dinossauro carnívoro brasileiro; os Artefatos de Civilizações Ameríndias; o Crânio de Luzia; o Sarcófago de Hori, e outros tantos itens. Ironicamente, na entrada daquele Museu, que visitei uma vez, lembro-me de uma placa com a seguinte inscrição: “todos que por aqui passem, protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir seu próprio futuro.”

No dia 29 de julho último, mais uma tragédia anunciada, transformou em cinzas parte da Cinemateca Brasileira, na zona oeste de São Paulo, com importante acervo audiovisual. Subitamente, a mensagem daquela placa me voltou à memória e me instigou recuperar um artigo relacionado àquele episódio, que eu havia, na ocasião, publicado em meu Currículo Lattes. Foi quando me dei conta de que a Plataforma Lattes do CNPQ não havia queimado, mas, ao contrário, sofrido um apagão. Então pensei: mas que caramba, não tem jeito, nossa memória histórica, que já é curta, se não sofre incêndio, sofre apagão.