“Filosofia para tempos de dualismo esquizofrênico”

Por: Nelson Luiz Pereira

07/12/2021 - 22:12 - Atualizada em: 07/12/2021 - 22:22

Tenho recorrido ao campo da filosofia para entender e, ao mesmo tempo, me blindar desse momento sombrio e singular, regido por ‘ideologias enlatadas’ alimentadas por persuasivos ‘bots’ ou robôs virtuais. A supremacia das ideologias enlatadas tem suplantado a razoabilidade, a coerência, o discernimento e, sobretudo, o pensamento crítico. 2021 já aponta para a reta final e a cada ano que se finda, tenho por hábito reler, sinteticamente, tudo o que escrevi durante o ano.

É um exercício de balanço mental que me toma umas três horas, mas que me permite saber se continuo mantendo minha lucidez. Resistir ao movimento ‘samambaia ao vento’, não importando a direção do vento, exige muita disciplina e conexão com a realidade fática do mundo. A luz do pensar crítico está ofuscada pelo determinismo de uma razão dualista em ascensão, ou seja, tudo se abrevia em duas possibilidades: direita ou esquerda; estado laico ou eclesiástico; hetero ou homo; preto ou branco; democracia ou ditadura; machismo ou feminismo; conservadorismo ou liberalismo; armamento ou desarmamento; amor ou ódio; felicidade ou tristeza, e por aí vai.

Confesso que sou um inquieto, que busca transcender essa esquizofrênica dualidade. Percebo que a bizarrice de nossos tempos, tem gerado uma legião de atormentados, presos aos grilhões desse reducionismo intelectual. Por isso, antevejo um 2022 regido, com mais evidência, por um intenso e dual doutrinamento robótico virtual das massas.

Esse fenômeno, é próprio de tempos líquidos, caracterizados por muita informação e pouca formação; muita política e pouca ação; muito processo e pouca justiça; muito ter e pouco ser; muito dizer e pouco mostrar; muito impor e pouco aprender; muito obedecer e pouco pensar; muito copiar e pouco criar; muito herdar e pouco construir; muito aparecer e pouco convencer; muito ludibriar e pouco respeitar, e tantos outros ‘muitos’ e ‘poucos.’

A razão crítica, a virtude, a coerência, e a sensatez, seguirão sendo embriagadas por uma ética populista proferida por esse exército de robôs que nutrem as pseudo opiniões. Minha clara percepção é de que, no campo do pensamento crítico, as luzes estão gradativamente se apagando. Minha vingança é manter a minha acesa.