“Dedo do meio ao racismo”

Por: Nelson Luiz Pereira

14/11/2019 - 19:11 - Atualizada em: 14/11/2019 - 19:36

O racismo impera no futebol europeu. Mais uma vez o mundo testemunhou, graças a imprensa livre, a intolerância de ignorantes. Desta vez as vítimas foram os atletas brasileiros Taison e Dentinho que disputavam o clássico ucraniano, entre Shakhtar Donetsk e Dynamo Kiev, no último domingo (10). Mas o Brasil não ficou atrás. No mesmo domingo, dois torcedores do Atlético-MG foram flagrados por uma câmera, cometendo crime de racismo contra um segurança do Mineirão. Este tema tem sido pauta recorrente em minha coluna de opinião, e não deixarei de fazer.

Reafirmo minha tese particular de que desde que descemos das árvores, muito mais nos transformamos do que evoluímos. O que não significa que primatas não tenham sido uma obra divina. Minha fé diz que sim. Ocorre que, ao descermos das árvores, além da dor na coluna vertebral, herdamos a peste do racismo, cuja raiz histórica envolve uma miríade de teorias, que sintetizo tudo em duas principais visões:

i) a “visão classificatória reducionista”, como invenção hierarquizada do modernismo ocidental, apoiada no pseudo princípio de que os caracteres físicos se convertem em raça e influenciam o comportamento; e ii) a “visão teológica” baseada em passagens bíblicas, como a de Noé que amaldiçoa seu único filho negro, profetizando que seus descendentes seriam escravizados pelos descendentes de seus irmãos. Essas duas equivocadas visões têm legitimado barbáries históricas como a escravidão, o holocausto, o apartheid e genocídios diversos. Por aqui, desde a abolição aos dias de hoje, foram 100 anos para que o racismo fosse considerado crime. Agora, pela lógica de nossa suprema corte, levarão mais 100 para que o criminoso seja preso.

Providencial o manifesto do jornalista Roberto Jardim no blog do Juca Kfouri do dia 11/11: “Esse inimigo em comum já foi o povo judeu. Assim como já teve outras etnias como alvo. Hoje são os negros, os refugiados e os estrangeiros em geral. Se conseguirem avançar, tomando poder, assumindo governos a partir de eleições democráticas, usarão essa legitimidade para aumentar a perseguição a quem não tem a mesma cor, a quem não nasceu no mesmo país, a quem não pensa igual, a quem não tem a mesma religião e por aí vai. E depois disso, o que mais farão? Certamente seguirão passos do passado, usando uma guerra aqui, outra ali, para justificar o injustificável”.