“Aos naftalinas: O passado é uma roupa que não nos serve mais”

Por: Nelson Luiz Pereira

03/11/2020 - 07:11 - Atualizada em: 03/11/2020 - 07:34

O título dessa crônica foi inspirado em Belchior, aquele “latino americano, sem dinheiro no bolso” … “que há algum tempo era jovem, novo, e hoje é antigo”. Escolhi este título para dizer, entre outras divagações, que um dos exercícios que me dá prazer é resgatar a história. Embora eu não seja um especialista, me sinto um arqueólogo de memórias. O curioso é que a cada registro garimpado, mais me convenço de que “no presente a mente, o corpo são diferentes”.

Quanto mais observo o antigo, mais me encanto com o moderno. Quanto mais leio sobre as antigas culturas, valores, crenças e velhos dogmas, mais me identifico com o diverso, o alternativo, o irreverente, o descolado, o novo. Certamente você já conviveu ou conversou com ‘pessoas naftalinas’. Sim, aquelas literalmente presas aos grilhões do passado, ou, do ultrapassado. As que se deixaram impregnar pelo amarelão do tempo. Elas sonham com a regressão do mundo.

Óbvio que é importante conhecer o passado para compreender o presente. Mas, os indivíduos naftalinas vivem o passado renegando o presente. Eles enaltecem a velha geração e depreciam a nova. É muito fácil identifica-los. Eles contam os anos de vida e não vida nos anos; vivem venerando tudo que empilharam ao longo dos anos, para exibir à nova geração e proclamar: “vocês não seriam capazes”. Os naftalinas são hiper apegados à justificativas retrô. “No meu tempo era tudo diferente”; “a nova geração tá toda perdida”, e mimimi, e blá, blá, blá.

A janela de um naftalina é um retrovisor. Ele sonha com a regressão do mundo. Mantenha distância deles. Se não puder, simplesmente diga: “o mundo é ‘bão’ Sebastião”. Aproxime-se dos não-naftalinas. Desses você será impregnado dos “mais” e dos “menos” existenciais não quantificáveis e estereotipados: mais sonhos e menos razão; mais diversidade e menos preconceitos; mais desprendimento e menos obrigação; mais irreverência e menos formalismo; mais sentido e menos padrão; mais mares para singrar e menos cais para se prender; enfim, mais plenitude e menos representação. Estes sabem, sobretudo, que “precisamos todos rejuvenescer.”