A regra é clara: quem não faz leva

Por: Nelson Luiz Pereira

15/04/2018 - 19:04 - Atualizada em: 15/04/2018 - 19:19

Neste mesmo espaço, há praticamente um ano, eu me apropriava de um exemplo de superação esportiva, para produção de um artigo intitulado “o impossível possível”. Queria fundamentar a ideia de que na dinâmica da vida e dos negócios, sempre nos deparamos com a fronteira entre o possível e o impossível. Sustentava que, circunstancialmente, de acordo com nossas atitudes, podemos graduar essa fronteira como: inexorável, tênue ou factível. Significando que, ao considerarmos inexorável, estaríamos admitindo que o impossível ‘seria realmente’, impossível. Já, entre as instâncias tênue e factível, estaríamos exortando nosso sentido de que o impossível ‘poderia ser’, ou ‘seria’ possível, respectivamente. E isso faria toda a diferença. Me utilizara, como exemplo ilustrativo, do antológico confronto entre os times Barcelona e PSG – Paris Saint-Germain, precisamente no dia 8 de março de 2017, pela Liga dos Campeões da Europa, ocasião em que o Barça revertia, inacreditavelmente, a larga vantagem de 4 gols pró PSG.

Agora, o mesmo Barça de Lionel Messi provou do veneno que aplicara ao PSG, porém, contra um adversário bem menos ranqueado no futebol daquele continente. Para o senso comum, como para os escolados comentaristas do futebol, a vantagem de 4 a 1 construída na Catalunha pelo invicto Barcelona sobre a Roma, significava ‘fatura liquidada’. Restaria ao modesto time italiano, a tarefa de ‘remontar’ um placar mínimo de 3 a 0 em sua casa, acreditando muito mais na intercessão da deusa mitológica Victória, do que em sua cética torcida. Mas o épico confronto da última terça feira (10) nos mostrou que, de forma inusitada, os donos da casa personificaram a máxima do poeta e dramaturgo francês Jean Cocteau: “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.”

Penso que uma competição desse nível, não é para ser assistida acompanhada de cerveja e aperitivos, mas, estudada e absorvida como ensinamento para a vida. Na essência, o que se viu no Estádio Olímpico de Roma, não foi um jogo de futebol, mas uma competição de atitudes e comportamentos. O que se testemunhou, transcende as linhas limítrofes de um campo de futebol, com seus personagens, lances, regras e apitos. Esses são elementos intrínsecos e figurativos da disputa. Dentro de campo o time da Roma fez o que tinha que ser feito, ou seja, reverteu o placar a seu favor. A vitória, propriamente dita, já se encontrava construída extracampo. A atitude de transpor uma fronteira factível já estava previamente assimilada pelos jogadores. O Barcelona, por sua vez, incorporou a atitude obtusa de acreditar, ou subestimar, que o adversário estaria diante de uma fronteira inexorável, intransponível. Bastaria administrar o confortável resultado, economizando esforços. Isso o desviou do foco da real missão. Foi o erro capital.

A vitória da Roma que se fizera previamente invisível para a absoluta maioria, se desvelou ao apito final, nos comprovando a milenar sabedoria de Sun Tzu: “para ser vitorioso você precisa ver o que não está visível”.