Aos que tem a paciência de acompanhar essa minha coluna semanal, encontrarão, neste pequeno ensaio textual, uma reflexão em que me utilizo do recurso estilístico da rima, para discorrer sobre a pedagogia do medo. Então vamos ao enredo:
Herdamos de nossa mais remota ancestralidade, o medo, sobre o qual está assentado o instinto de preservação e continuidade da vida; então, logo temos medo da dor, do sofrimento, da perda, da morte ou partida. Alguns tem tanto medo, que morrem de medo; já, outros, não têm medo algum, e morrem mais cedo. São medos que nos regem particularmente; cabe a cada um, administra-los conscientemente.
Mas quero me reportar ao medo coletivo; este é o que me causa medo excessivo. A razão é por eu ter consciência de que a história se repete em formato travestido; logo, se o método funcionou bem dantes, segue no presente, sendo bem sucedido. Os medos coletivos de outrora, são os medos mimetizados de agora. Eu morro de medo da idade média; em que se utilizava o medo como rédea. Tal pedagogia visava a manobra dos súditos para manutenção do clero, da coroa e da senhoria; e, hodiernamente, da igreja, do estado e da orgia.
Daquela “idade das trevas” não herdei medo do escuro; mas me borro de medo do obscuro. Me pelo de medo daquelas penas por heresia; hoje convertidas em fogueira da hipocrisia. Me arrepio de medo da pretérita servidão medieval; simulada em alienação atual. Enfim, me hipnotizo de medo do retrogrado absolutismo, transfigurado em vigente populismo.
A pedagogia do medo reina em meio a atual pandemia que nos consome; de um lado a ordem é, se sair de casa morrerá infectado, de outro, se ficar, morrerá de fome. Um povo com medo, age desprovido de razão, submetendo-se ao proselitismo; é desse medo orquestrado que brotam o ódio e o extremismo. Por um extremo, a pedagogia do medo lhe quer acuado; por outro, lhe quer arrebanhado. Os dois lhe querem sob domínio, reverência e subserviência; sabem que senso crítico é sinônimo de liberdade e independência.