“2019: O que esperar?”

Por: Nelson Luiz Pereira

15/12/2018 - 06:12

O que esperar do ano vindouro? Eis uma indagação clássica a cada ano que se encerra. Uma das características que nos faz humanos racionais é a capacidade de identificar, interpretar e interagir com a realidade a qual estamos inseridos e projetar cenários.

Logo, nossa dimensão de mundo é proporcional ao modo como percebemos e nos relacionamos com essa realidade. Tendemos construir nossa trajetória apoiados, naturalmente, numa expectativa de modelo social que nos proporcione segurança, convicção, objetividade e resultados favoráveis.

Significa dizer que sempre esperamos o melhor. Ocorre que a realidade é, em sua essência, muito mais do que padrão concreto, cartesiano, palpável, funcional, mensurável e desejável de construção e organização de vida.

Há um “espaço” imensurável entre realidade e possibilidade que poderíamos denomina-lo de utopia. Daí a questão em jogo, é de que forma lidamos com essa utopia. Para uns, ela é simplesmente imaginação, ilusão, quimera.

Para outros, ela é incorporada como “utopia construtiva”, ou seja, aquela que move, instiga, impulsiona, entusiasma a ousar, atrever, correr riscos, desafiar a lógica formal estabelecida e, sobretudo, sonhar. Particularmente, sustentado nessa “utopia construtiva” não esperarei nada de 2019.

Terei sim, como bem nos orienta o filósofo Cortella, muita esperança, mas, do verbo “esperançar”, ir à busca, persistir, e não esperança do verbo esperar, ou, espera passiva.

Em nossa realidade contemporânea, faz-se mister ver além do que nossos olhos retêm, mesmo que nos pareçamos insanos. Ilustrando essa ideia, é bem nessa perspectiva que Miguel de Cervantes retrata a realidade cotidiana de seu clássico e belo personagem Dom Quixote.

Em uma passagem de suas inúmeras aventuras da medieval cavalaria andante, o fidalgo via o famoso elmo de Mambrino enquanto seu fiel escudeiro Sancho Pança via, tão somente, uma bacia de alumínio carregada por um barbeiro.

É, também, nessa perspectiva que o genial Van Gogh revelava nas telas, por meio de suas frenéticas pinceladas, o mundo além de seus olhos mortais, e tantos outros exemplos notórios que poderíamos citar.

Atrevo-me sustentar que o sucesso, a realização, e a felicidade estão condicionadas à nossa disposição e coragem em adentrarmos o espaço da “utopia construtiva”.

Pois é nessa dimensão que, na visão de Dom Quixote, podemos “sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, amar um amor casto à distância, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível”.  Esperançoso 2019.