Uma amiga, de Porto Alegre, me contou que andava meio louca, uma inquietação atrás da outra. Ouvi o desabafo e fiquei pensando: - Bah, mais uma! Sem ofensa, sem preconceito, mais uma, pensei. Rolando a conversa, a amiga me disse que fora convidada por uma vizinha, e aceitou o convite, para uma “loucura”: passar uma semana num retiro espiritual. Pensou, relutou e topou. Foi. A amiga, ex-colega de jornalismo, foi para o tal retiro e achou que era uma espécie de hotel, com outras amigas e gente disposta a achar graça de tudo e de nada. Minha amiga deu com os burros n’água, o retiro era bem diferente do que ela havia pensado. A primeira “descoberta” foi que por três dias as pessoas não podiam conversar entre si, apenas fazer gestos de saudação, aceno de mão, nada mais. Ela disse que quase enlouqueceu, passava pelas amigas que a acompanhavam na “loucura” e apenas mexiam as mãos, e de longe. Ah, e celular nem pensar. Nem pensar. Era um “isolamento” coletivo, sem nenhum tipo de comunicação, senão consigo mesmas. Um dia e meio depois do início da “loucura”, minha amiga contou que já estava se acostumando à ideia e que já estava começando a gostar da “loucura”. Três dias depois desse isolamento de “purificação mental e emocional”, as pessoas foram liberadas para as demais atividades, meditação e breves palestras estilo budista. Nesse meio tempo a amiga diz que dormiu um sono diferente, sem ruídos... E por fim, depois de seis dias, foi para casa se sentindo estranha, vendo mais claramente a vida louca que ela levava. Levava ou vai continuar levando? Isso ela não me disse. Nada de novo, quem é que não sabe que não estamos vivendo, que estamos, isso sim, mergulhados numa anestesia de erros, imbecilidades, diversões idiotas, exibicionismos dos nossos vazios e ansiedades sem consciência da vida oca que estamos, regra geral, vivendo... Tenho uma manchete agora diante dos olhos, da Folha – “Jovens precisam dormir bem”. E por que não estão dormindo bem? Sabemos das razões, a começar pelos desastrosos “exemplos” vindos do papai e da mamãe. Parar, silenciar, olhar tudo, a nós inclusive, de longe, vai nos derrubar a máscara dos enganos. Fico pensando, como eu reagiria a um retiro desses por uma semana fazendo ohmmmm... Acho que deixaria de tentar morder os cotovelos...

TEMPOS

Penso que a vergonha tirou férias... Ouça esta manchete: - “Filho de (um famoso) curte hotel deslumbrante em Ibiza ao lado da namorada”. Como é que é? “Namorados” viajando juntos e dormindo na mesma cama? E ninguém das famílias ergue a voz? Depois falam mal das “trabalhadoras” que balançam suas bolsas nas esquinas à noite... Famílias despudoradas. Mas é a regra. E as filhas, idiotas, se envenenando com anticoncepcionais...

QUEIXAS

Ontem um amigo me suspirou dificuldades: - “Ah, Prates, se eu ganhasse, digamos, uns 10 milhões na Mega-Sena, bah, minha vida ia mudar para sempre, 10 milhões, não ia precisar de mais...”. Sim, e tens jogado? - perguntei. Não, ele não joga. Passei-lhe os cachorros. Como é que alguém quer crescer ou ser na vida sem fazer as “apostas”, isto é, sem se preparar e agir? Típico da maioria que anda apor aí...

FALTA DIZER

Ah, mas é assim que o povo fala! O povo atolado sim, mas não deve ser a linguagem das tevês. Num novela da (em queda) Globo ouvi um personagem dizer “pé na bunda”. E isso é o de menos, a baixaria generalizada nas novelas passou a ser o ritmo. Queda livre à falência!