Tristeza máxima

Por: Luiz Carlos Prates

08/11/2016 - 04:11

Tudo bem, como exemplo “falsamente” ilustrativo, vamos aceitar. É a história da cigarra e da formiga. Conta essa história, e você sabe disso, que a cigarra passa “cantando” pelos verões da vida, enquanto a formiga passa carregando mantimentos para sua toca… Quando chega o Inverno, a velhice, no caso dos humanos, a formiga tem o que comer e vive feliz no seu cantinho. Já a cigarra, que desperdiçou seu tempo “cantando”, passa o Inverno da vida, a velhice, sem nada… Não produziu.

Como ilustração, tudo bem, vale. Na verdade, a cigarra não está cantando, o “canto” dela não é canto, é comunicação, é-lhe tão importante quanto respirar. E assim fazem todos os pássaros. Idiotas, todavia, acham que o passarinho canta. Imagina que iria cantar quando preso numa gaiola. Outra vez, tudo bem, fazer o quê com pessoinhas que têm cabecinha deste tamanhinho?

Digo o que digo em razão desta manchete: – “57% das pessoas acima de 60 anos não têm reservas”. Não tem nada. Estão chupando o dedo. Velhos e sem nada. Por quê?

Será que esses idosos foram “cigarras” na vida? Se tivessem sido estariam numa boa, as cigarras não cantam, trabalham, mas o fazem de modo diferente, fazem barulho quando trabalham. Não há nada pior na vida que os sofrimentos na velhice. Na juventude sempre há a esperança, sempre. E que esperança pode haver para quem se vê velho/a, sem recursos ou com muito pouco? A esperança de um asilo? Melhor o fim… A esperança da ajuda dos filhos? Pode ser. Mas nem todos os filhos ajudam como podem ou como deviam, nem todos. E, aliás, nesses casos, por estatística e maioria, são as filhas, mulheres, que ajudam ou mais ajudam. Os “homens”, quando podem e estão dispostos, ajudam com algum dinheirinho. É a regra.

Que todos, então, pensemos. Cigarra ou formiga na vida? Claro, num sentido bem figurado. Formiga. É preciso pensar no Inverno da vida, ele é cada vez mais longo e penoso para a maioria dos velhos e velhas. Muito triste ir olhando para a linha final do horizonte e nada ver, senão uma ajudazinha daqui ou dali, ou, pior que tudo, nem isso.

A velhice, jovens, começa hoje, parem de só “cantar”, comecem a ajuntar. Será bem melhor. E, cá para nós, é muito bom poder “cantar” na velhice. Mas os imprudentes trocaram o verbo cantar pelo verbo depender. Tristeza máxima.

AMANHÃ

E se não houvesse o amanhã, você se aprovaria hoje? Vivemos muito mais nos amanhãs do que no aqui e agora. E nada mais danoso à vida do que viver no amanhã, no futuro. A maioria vive ou numa angústia inquietante diante do que “talvez” venha a acontecer, ou então vive deixando para amanhã o que “deve” ser feito hoje. Caso dos idosos, acima comentados, e que hoje nada têm. Passaram a vida se lamentando do hoje e duvidando do futuro. O futuro chegou e eles estão na lona.

FALTA DIZER

Muitos “velhos” usaram de muitas desculpas para suas pobrezas, misérias, mas souberam direitinho fazer um monte de filhos naquela pobrezinha sem voz… E não adianta agora fazer cara feia.