Riso sem motivo

Por: Luiz Carlos Prates

22/05/2018 - 12:05 - Atualizada em: 29/05/2018 - 16:26

Foi dia destes e fiquei arrepiado. E não sou nada santo, mas… Para tudo deve haver limites. O exemplo tem que vir de cima, não foi assim que nos ensinaram na infância? Quando o exemplo não vem de cima, de onde virá? O assunto trata de linguagem. Você já me ouviu aqui inúmeras vezes dizer de uma das minhas frases favoritas, aquela do Baltazar Grácian, padre jesuíta do século 16… Ele dizia: – “Fala, se queres que te conheça”. Frase irretocável. Falando ou escrevendo, que é falar pelos dedos, nos revelamos, queiramos ou não, mais cedo ou mais tarde.

O fato. Uma linguagem de bordel num “grande” jornal de São Paulo, jornal que dia destes fez um alarido por ter lançado uma reatualizada edição do seu Manual de Redação. Numa de suas edições destes dias, o jornal dizia em manchete: – “Datena mira Senado após “ficar puto” com desistência de Barbosa”. Datena é um apresentador de televisão e sua decepção veio da desistência do ex-magistrado Joaquim Barbosa de concorrer à presidência. Ficar puto é linguagem de jornal? Não, não é, é linguagem de botequim ou de bordel de beira de estrada, nunca de um “grande” jornal…

Nesse mesmo jornal, outro dia, um ator falando sobre críticas a ele na Internet disse que “estou cagando para os críticos”. – Olhe, não se trata de moralismo medieval, mas essas expressões podem e devem ser adaptadas pelos jornais, afinal, jornais informam e formam. Formar, como sinônimo de educar, é também missão da imprensa. Ficar puto podia ter sido “muito irritado”, frustrado, ou o que valha. E dizer que “estou cag… para os meus críticos”, podia ter ficado – Não estou nem aí para eles… Modernidade demais mata.

Dia destes, entrei no carro, liguei o rádio e dei de ouvidos com um programa de humor, devia ser de humor… Uns quatro ou cinco camaradas diziam o que bem entendiam de palavrões, palavrões “daqueles”. Qual a graça? Nenhuma. Estupidez de quem fala e estupidez de quem ouve e acha graça. Aliás, falando nisso, lembro de um professor marista que tive, inesquecível, que costumava dizer quando um guri estava rindo do nada: – “Olha aqui, guri, o riso sem motivo é sinal de ignorância”. Escrever palavrões também. E não adianta Manual de Redação, o melhor manual é a sensibilidade. Antes do manual, um espelho ficaria melhor…

Língua

O assunto continua. Muita gente esquece de “escovar” a língua, escová-la dos chulismos, palavrões, vulgaridades. Dia destes, reencontrei uma amiga, ela vinha com uma jovem ao lado. Beijinhos para cá, beijinhos para lá, e em poucos segundos a garota “ao lado” disse um palavrão que me fez corar. Disse, assim, no fluxo da conversa, sem qualquer intenção especial, mas… revelou-se vulgar. Temos que escovar os palavrões da língua. É o melhor cosmético para os lábios. Um cosmético bem pouco usado…

Falta dizer

Pergunto a todos que me cruzam o caminho: fizeste a vacina contra a gripe? A maioria diz que não, ainda não. Depois, esses indolentes vão se queixar da sorte, criticar o governo. Mas há quem diga que a UTI é uma professora muito eficaz. Credo, cruz!