Há quem pense que recato é dever de mulher. Antes de tudo, recato deve ser um comportamento de todos, homens e mulheres. Mas… os entupidos exigem recato, que outra coisa não é senão vergonha, pudor, que seja comportamento de mulher. Aliás, já foi dito que a “grande” mulher, para os machos impotentes, é a mulher bonita, recatada e do lar. Sendo assim, ela é supermulher.
Estou nessa baba, leitora, porque acabo de ler um artigo num jornal de São Paulo escrito por uma conhecidíssima antropóloga, (não lhe dou o nome) ela estuda e escreve muito sobre mulheres. Nesse seu mais recente trabalho jornalístico, ela nos faz saber de comportamentos femininos que de sobejo sabemos, mas teimamos em fazer beicinho quando sobre eles ouvimos alguma coisa.
Ela diz, por exemplo, que – “Jovens mulheres se acham totalmente liberadas, mas fingem que têm orgasmo e transam mesmo quando não estão com vontade. Elas morrem de medo de perder o namorado se disserem não”. Meto a colher no assunto: não são apenas as jovens mulheres, a maioria das casadas faz sexo sem vontade e finge orgasmos. Gostaria de ouvir uma leitora…
A antropóloga fala do que ouviu de uma aluna de Psicologia. Disse a aluna que – “Minhas amigas têm vergonha de entrar na farmácia e comprar camisinha. Acham que, se tiverem camisinha na bolsa, as pessoas vão pensar que elas são vagabundas, putas, periguetes…”.
Uma outra jovem, de 22 anos, contou à antropóloga que – “Morro de vergonha de dizer que ainda sou virgem. Minhas amigas dizem para eu transar com o primeiro homem que aparecer só para tirar o estigma de ser virgem”. Ouviste bem, leitora, “estigma”.
Até a gora, algo de novo? Claro que não. As mulheres se amarram em preconceitos, se escravizam a padrões machistas e sedimentados por famílias ignorantes, a estonteante maioria; famílias que educam seus pequenos mandriões para o desrespeito e o avanço sobre as mulheres, ao tempo em que educam as meninas para o “recato” e o casamento.
De tudo o que foi dito, uma coisa deve ser mandamento das jovens, delas, mais que tudo: – Sem camisinha, aprendiz de garanhão, vai te coçar numa tuna! Por que as mulheres precisam acolher o dogma de fé de que “ele”, seja quem for, é confiável e limpinho? As que seguem o “dogma” vão gemer muito… que vão, vão. Pensem nisso.
Perguntas
A antropóloga que me inspirou nossa conversa de hoje, leitora, também faz perguntas às mulheres. Uma delas: O que você inveja nas outras mulheres? Quase todas responderam: ser magra, ser bonita e ser sensual. Coitadas. Não sabem que a beleza que “prende”, que amarra e faz os homens gemerem é a beleza de dentro, a luz da cabeça, os encantos do ser. Bah, diante de uma mulher dessas, por favor, me traga um cabresto…
Diferenças
Por que há tanta violência contra as mulheres, feminicídios? Por que os homens sabem que a única vantagem deles sobre as mulheres é na força física, em nada mais. Nas múltiplas inteligências elas estão acima, em todas, há provas mundiais disso. Logo, o desespero das fragilidades os leva aos murros. E eles não precisariam de punhos nem de murros para cativá-las, bastar-lhes-ia a força das ideias e dos livros. Coitados dos “murchos”.
Falta dizer
Passei os olhos há pouco numa frase de Platão, o filósofo grego. Ele dizia que “O que importa não é viver, mas viver bem”. – Volte aqui, Platão! Diga-nos, o que é viver bem? Dos tempos de Platão até hoje ninguém descobriu como é viver bem…