Os felizes

Por: Luiz Carlos Prates

21/01/2017 - 07:01

Já citei aqui várias vezes o conceito de Oscar Wilde, o magnífico escritor irlandês, sobre as aparências. Ele dizia que só os idiotas não julgam pelas aparências. Ele tinha razão, todos julgamos pelas aparências, todos, menos os idiotas. E aí está o primeiro passo para os grandes equívocos nos casamentos, por exemplo. Costumamos cair na rede dos embaraços futuros a partir dos falsos encantos dele ou dela. Mas não é disso que quero falar. Quero falar é das aparências do cotidiano, essas que andam por aí nos jornais todos os dias. Só vejo pessoas com largos sorrisos em beira de praia, festas, baladas, encontros com os amigos, só gente feliz, pois não? Feliz uma ova.

E falando disso, lembro de uma história. De uma feita, numa certa emissora de televisão onde trabalhei, costumava chegar cantando e até ensaiando passos para pequenas danças caricatas… Um horror. Mas era alegria pura, eu até então pensava. Na redação, só mulheres e o chefe, um bom sujeito muito afeito ao chimarrão.

E essa minha rotina de chegar festivo, cantando e até dançando, um dia foi contestada por uma colega. Ela me olhou sem piscar e me perguntou como uma psicanalista: – O que é que anda te incomodando, esse teu comportamento festivo é dissimulação, o que há?
Nunca esqueci. E havia encrencas, sim. Encrencas minhas que eu disfarçava inconscientemente com falsas alegrias de cantar e até quase dançar… É isso, somos assim, muitas vezes, disfarçados.

E é o que vejo na felicidade coletiva das pessoas em fotos de jornais, na beira da praia e por aí tudo. E a grande verdade é que as pessoas verdadeiramente felizes são quietas, silenciosas. E não raro, diante delas pensamos – Xi, aí tem, por que será que o fulano anda assim tão quieto!

Na verdade, e quase sempre, essa pessoa está de bem consigo mesma, não tem razão para andar fazendo ruídos. Nossos ruídos, sorrisos fáceis, gargalhadas mesmo, costumam disfarçar ou tristezas ou outros incômodos. Somos bons atores para disfarçar. Mas que me incomoda o sorriso fácil dos recantos sociais de todos os tipos, me incomoda. Seria melhor que as pessoas ficassem sérias e tentassem de vez resolver seus problemas. A pior mentira é a que contamos a nós mesmos.

Nulidades
Os números não mentem, jamais. Seis milhões de jovens fizeram o último Enem, só 77 deles tiraram 10 em Português. E os outros? São essas nulidades que andam por aí o dia todo, que não leem, que não sabem pensar, escrever, nada, só sabem andar com o celular na mão para perder tempo com boçalidades. Muitíssimos sabem muito bem consumir drogas longe dos pais, incomodar professores em sala de aula e a reclamar do calor. Pífios sem futuro.

Falta dizer
Manchete: – “Solidão pode ser um veneno para a saúde do idoso”. Estás ouvindo isso, garotão, e tu, mulher? Sem essa de andarem ocupados e não terem tempo para o pai e para a mãe idosos. Honrar pai e mãe, mandamento, se faz de todos os modos e um deles é não deixar pai e mãe roendo unhas num canto.