Nossas algemas

Por: Luiz Carlos Prates

13/09/2016 - 04:09 - Atualizada em: 13/09/2016 - 09:39

As algemas são sempre um par, pois não? Claro, impossível “prender” alguém só de um lado, só por um punho. Mas isso é na vida física, corporal. O diacho são as algemas do espírito, não quero usar da palavra discutível, alma… Altamente discutível, prove-me que existe a alma, a tal alma imortal? Sim, sei também que tudo é energia, nada nasce, nada morre, tudo se transforma, quem não sabe disso? Mas isso é uma coisa, outra é a “permanência” eterna dessa alma que tem a nossa identidade, a alma pessoal de cada um… Aí a cabecinha da pessoa tem que ser muito aérea para aceitar. Como Agostinho, quero provas. Mas não é disso que quero falar, quero falar é de algemas emocionais, as piores de escapar…

Você notou que vivemos algemados? Pode não ter notado, mas sente-se algemada/o, uma sensação pesada, chata, uma vacilação existencial, uma busca por uma saída vaga, imprecisa, mas indispensável para que respiremos melhor. Respiremos a vida.

Nossas piores algemas são o passado e o futuro. O passado literalmente nos prende, nos faz suspirar, não pelos momentos ruins, mas pelos bons, que não foram tantos… Ou foram? De um modo ou de outro recordar não é viver, como diz o samba. Recordar é sofrer, afinal, se recordamos o que foi bom como trazê-lo de volta? Impossível. E se o que recordamos é ruim, por que recordar?

O passado não nos deve ser mais que um “professor” a nos lembrar permanentemente o que não devemos repetir, não mais. E a pior das algemas do passado é a saudade, não serve par nada, só para sofrer.

E o futuro tem a marca do verdugo assustador, o que será, quando virá, como virá, virá? Sobre o futuro há apenas uma e inescapável certeza, bom nem falar, você sabe… Quanto ao resto, tudo é possível…

Então, tirada a “certeza”, a única companheira fiel que acompanha o ser humano desde o primeiro vagido até abandonarmos o palco… nada mais nos deve assustar, mas energizar para as lutas, afinal, fora “da monja da escuridão”, tudo o mais podemos conquistar. O caminho saudável, então, é limpar a mente do passado, passou, passou, e desligar do que será o futuro. Será o que for, mas sempre de acordo com nossas lutas. Parar de lutar, dar-se por vencido é derrota na certa, a pior de todas: a derrota gerada pelo medo. Que conversa mole, não é mesmo?

VIVER

Sábios de todos os tempos sempre discutiram a longevidade humana. Ela depende da “sorte”, da genética ou da disciplina na vida? Genética é impossível mudar, é a herança maldita/abençoada ou dá ou desce; sorte é discutível, melhor então é acreditar na disciplina no viver. E o que é disciplina? E quem não sabe? Daí que a única coisa que não podemos fazer, nesse caso de querer viver mais e melhor, é cantar Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar/vida, leva eu…” Isso nunca, nós é que temos que levar a vida. Vamos levantar da cadeira? É pra já!

FALTA DIZER

Falei de futuro? Somos muito idiotas. Conhecer o futuro encurtaria o caminho para o suicídio, nenhuma riqueza vislumbrada nos faria felizes. O que nos faz é lutar e esperar.