Estamos sempre fugindo, fugindo de nós mesmos. Os mais jovens não se dão conta disso, suas cabeças estão muito ativas no aqui e agora, futuro para eles é uma ideia... Uma ideia vaga, ainda que digam o contrário. Já os mais velhos tentam, desesperados, fugir de si mesmos. E por quê? Por todas as ideias estreitas ou danosas lhes estão de plantão permanente na cabeça. Muitos foram os pensadores clássicos que nos abriram janelas para meditar sobre isso, Sêneca, o espanhol, foi um deles. Sêneca (4 aC.) dizia aos seus amigos que gostavam de viajar: - “Por que te admiras de que em nada as viagens te beneficiem quando te levas contigo? Vai atrás de ti a mesma causa que te faz fugir”. Mais adiante, Sêneca cutucava: - “Perguntas por que essa fuga não te ajuda; ora, tu foges de ti mesmo. É o peso da alma que deves deixar; antes disso, nenhum lugar te agradará”. Vivo dizendo isso há “séculos”, se a viagem não for por um trabalho, se a busca da alma inquieta for para fugir das inquietações, é tolice essa viagem. As inquietações estão dentro de nós, no nosso modo de pensar. Conviver com nós mesmos não é para qualquer um, aliás, até hoje não foi para nenhum. Vem dessa angústia vital – angústia que nos chega ao sermos expulsos do paraíso, o ventre materno, todas as nossas inquietações, inquietações geradas pelo nosso “secreto” sentimento de não valer muito, somadas à consciência permanente da hora final... Dessa angústia vem a importância do trabalho, de um trabalho prazeroso, que não seja um trabalho só para pagar as contas. Além do trabalho, devemos ter outras distrações mais imediatas, distrações que não nos enganem com viagens. As viagens são experiências rápidas, acabadas voltamos para casa... Para casa ou para dentro de nós mesmos? Esqueçamos o ponto final, ninguém vai evitá-lo. Precisamos de distrações? Precisamos, antes de tudo, de um propósito na vida, um propósito que não dependa de ninguém senão de nós mesmos. Fora disso, boa música, livros, teatro, amizades, hobbies decentes e ao alcance da mão, mesmo em dias de frio e chuva... Distrações úteis e benéficas no aqui e agora. Viagens são tentativas de fuga do pior dos presídios: nossa própria alma.
ANSIEDADE
Ansiedade é medo, fique bem claro. Medo do não bem definido, do incerto, do desastre possível, seja ele do tipo que for. Já o medo é objetivo, tenho medo de cachorro? Duas saídas, outro enfrento o cachorro ou fujo do cachorro. Da ansiedade ninguém pode fugir, senão de si mesmo, das próprias inseguranças. E não existe remédio para a ansiedade, existem “doppings”, anestésicos cerebrais, mas... Esses “anestésicos” são perigosíssimos. Cuidado.
AMOR
Certos assuntos são bons de repetir. Uma velha marchinha de carnaval dizia que – “Casamento é loteria? Os casamentos de hoje, sim, são loterias. E por quê? Porque os abobados confundem amor com pressa em ter alguém ao lado, de preferência uma bobinha ou um machinho de araque, o que anda por aí... Não pode dar certo. Boas e fundas observações diminuem os riscos dessa loteria. Perco meu tempo...
FALTA DIZER
Ontem fui tomar um ar, à beira do mar. Voltei pensativo. Na areia da praia uma mulher, jovem. De longe, pensei que ela rezava, de joelhos. Não, ela não tinha as duas pernas. Passado um tempo, ela “recolocou” duas pernas mecânicas, vestiu-se e foi embora. Que superação, que exemplo para os levianos que vivem para as linhas do corpo...