Sem ter o que fazer e antes que batesse o desespero da ociosidade, liguei a tevê. Seja o que Deus quiser, pensei. Liguei e caí num programa jornalístico da GloboNews. Dei sorte.
Em seguida, foi anunciada a presença de uma advogada especialista em Direito Constitucional, ela falaria sobre o que estava acontecendo em Brasília, esses rolos todos das indecências políticas.
A advogada, uma jovem mulher, entrou no estúdio, sentou-se e eu em casa a avaliei dos pés à cabeça. Não fazia o meu tipo, a começar pelo cabelo, bolas! Não fazia o meu tipo, e pronto.
Começou a entrevista. Feita a primeira pergunta, a jovem advogada iniciou a resposta. – Ah, Santo Deus, a ouvi por alguns poucos segundos e caí por ela… Que fala, que talento, que conhecimentos, que português bem-acabado, que “deusa” do Direito Constitucional.
Nesse momento, lembrei-me de um dos meus autores favoritos, Baltazar Grácian, um padre jesuíta espanhol nascido em 1601, um talento, escreveu obras magníficas sobre a condição humana. Grácian repetia muito a frase: – “Fala, se queres que te conheça”. Perfeita. Essa frase é a base da psicanálise freudiana, de fato, quando abrimos a boca nos revelados da cabeça aos sapatos. O ser humano se revela por todos os poros, e pela língua se entrega…
E por que lembrei de Grácian ao ouvir a jovem e “agora” linda advogada? Exatamente por isso, pela fala dela, pelo estilo, pela beleza das frases bem articuladas, pelo português escorreito, enfim. Num primeiro momento, não vi nada demais nela, não me fazia o gosto… – Ah, mas ouvindo-a mudei meus “olhos”: lindíssima. E quem não pode ter essa “beleza”? Ora, as pessoas que não têm a consciência de que falando nos revelamos e fazemos os outros saberem, por exemplo, da nossa autoridade sobre algo ou da nossa cabeça vazia sobre tudo…
Num momento em que as pessoas quase que só falam gírias, vulgaridades, palavrões, ignorâncias, e revelam uma cabeça inane, oca, uma jovem mulher encantando pela fala fica mais linda que a mais linda Miss Universo. Ah, e, é claro, fica perigosíssima para outras mulheres e para os machinhos de aparência, vazios. Grácian, tu tinhas razão; de fato, fala, se queres que te conheça…
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