Já disse aqui que minha pior decisão na vida foi ter me encaminhado para a psicologia… A psicologia é bruxa má, nada tem de fada madrinha, cunhei esta frase e dela não me arrependo. A psicologia nos faz ver as pessoas por trás das máscaras que usam, as chamadas personalidades.
E de um tempo a esta parte, tenho observado atentamente o comportamento de homens e mulheres que fizeram muito na vida mas… não puderam escapar da velhice. E na velhice ficaram reticentes, hesitantes, um tanto pessimistas… E você pode me dizer, pudera, Prates, à medida que vamos pegando estrada na vida vamos de igual perdendo luz, a luz dos longos dias pela frente, os sonhos, os doces folguedos da mente, essas coisas… Pode ser…
Às últimas horas li uma bela entrevista com o escritor americano Philip Roth, de quem devorei um livro inesquecível: O Complexo de Portnoy… Leia-o, é psicanalítico em essência, faz diferença entre o antes de lê-lo e o depois…
Nessa entrevista, Roth, que está com 85 anos, conta que cansou de escrever ficção. Chega, cumpriu com seu roteiro na vida, agora dedica-se a ler, ler de tudo… Esse deixar de escrever, que foi a vida dele, é um tipo especial de aposentadoria de que não gosto. Quando paramos de fazer o que sempre fizemos, e fizemos com amor, a vida passa a ter um vazio que é sintomático e mau para a vida… Nossas entranhas começam como que a dizer: – “Olha, gente, não temos mais por que lutar, descansemos as armas”! É o começo do fim…
Ouça esta frase do Philip Roth: – “Ao me deitar, sorrio e penso que sobrevivi por mais um dia. E oito horas mais tarde, quando acordo, me espanto de novo ao perceber que chegou a manhã e continuo aqui…”.
Não, meu amigo, não é assim que devemos pensar ao ir para a cama e ao levantar pela manhã. Esse é um modo errado de um “velho” pensar. É um olhar mais para trás do que para a frente. Aliás, um traço inconfundível da velhice é passarmos mais tempo olhando para trás do que para a frente. Mais para o que já foi do que para o que poderá ser ou será…
– Ah, Prates, mas a gente não se pode auto enganar, a velhice é isso mesmo, é uma contagem acelerada e regressiva…! É, mas ninguém nos impede de plantar em nossa alma novos sonhos, lutar por eles e viver. Viver com vida.
Calendário
O espelho nos envelhece? Sim e não, depende do que vemos no espelho… Mas eu fico a imaginar se fôssemos náufragos a viver sozinhos numa ilha e sem calendário nem espelho. Depois de um certo tempo, que idade teríamos, nos sentiríamos velhos? Nossa velhice vem muito mais do espelho, do calendário e do que ouvimos dos outros. Nós com nós mesmos e ninguém mais seríamos belas crianças por muito e muito tempo.
Falta dizer
Um multivitamínico para a longevidade, a saúde e a felicidade é esquecer a idade, o calendário, é viver a vida e… Ah, quase esqueço: não eliminar da vida a dúvida. A dúvida é uma coceira que nos faz arteiros existenciais e vivos.