O trabalho é o mais abençoado “anestésico” da consciência da finitude

Por: Luiz Carlos Prates

11/08/2017 - 08:08 - Atualizada em: 14/05/2018 - 14:44

Você, com certeza, já ouviu muitas vezes essa frase, essa do – Nem vi o tempo passar – deve até tê-la usado incontáveis vezes. Por quê? Ora, porque quando não vemos o tempo passar é por estamos fazendo alguma coisa que nos prende a atenção, algo bem interessante para nós. De outro lado, quando a coisa não nos é interessante, a frase é outra: – Meu Deus, o tempo não passa!

Dia destes me perguntaram o que está acontecendo, os jovens andam tão depressivos quanto os idosos. A razão é essa: tempo. Os jovens estão vivendo um tempo de vazios, sem nortes existenciais, com a bússola da vida travada em tolices. No passado, os jovens começavam cedo a trabalhar, e o trabalho é o mais abençoado “anestésico” da consciência da finitude e das inutilidades da vida…

Os jovens andam em círculos hoje, não saem do lugar, pensam que se divertem, pensam que são criativos, inteligentes e…se desmentem nas redes sociais pelas frustrações que demonstram sem se dar conta. Vidas vazias deprimem.

E os mais idosos, por razões semelhantes e outras inerentes à idade, têm de certo modo motivos para a depressão, que não passa de um desencanto gerado pela avaliação da vida já vivida e pelos prognósticos do que está por vir. Daí resulta a “imperiosa” necessidade de termos sempre algo a fazer e com vontade de fazer. Sem objetivos, sem nada para fazer, caso de muitos idosos, a vida se torna um olhar contínuo para o relógio – “Meu Deus, o tempo está passando e cada vez mais me aproximo do fim”!

Se o pensamento não é diretamente assim, é parecido. Será bem melhor então acharmos algo interessante para fazer e depois olharmos para o relógio e dizer: – “Meu Deus, o tempo passou e nem me dei conta”! Quando dizemos isso, o tempo foi bem vivido, bem empregado, é o tempo que nos tira de nós e nos leva para o que estamos ou estávamos a fazer.

Bendito trabalho, bendito o que fazemos por prazer e para fugir da consciência de que um dia o “Relógio da Vida” vai parar. E, uma vez parado, nunca mais voltará a dar voltas em torno dos desesperos, ou dos nadas…

 

HOJE

Estou cansado de ouvir histórias de maridos, pais, diretores de empresa, de tudo, que passaram pela vida só envolvidas com os secundários dela, envolvidas com obter recursos, mais e mais. Recursos é sinônimo de dinheiro no bolso e no banco. Pessoas que morreram “sem aviso-prévio”, o coração simplesmente os mandou se coçar numa tuna, de repente. Valeu a pena? Bolas, o que vale a pena é quando olhamos para o relógio e dizemos, felizes: – “Meu Deus, o tempo passou e nem me dei conta! Essa é a frase dos felizes. A dos infelizes é outra: – Santo Deus, esse relógio não anda! E dê-lhe trabalho, um trabalho infeliz!

 

BONZINHO

Ah, como sou bonzinho! Parei o carro ontem numa sinaleira e nela estava uma garota fazendo maravilhas com três bandeiras, uma coreografia de show parisiense… Baixei o vidro do carro e dei 10 pilas para ela. – Ah, tu és louco, estás alimentando a sem-vergonhice, isso e aquilo. Nada disso, ela estava trabalhando e para fazer o que ela faz é preciso muito treino, isto é, trabalho. Como trabalhadora, ela merece.

 

FALTA DIZER

Na Malhação, novelinha que reproduz o comportamento dos jovens, a guria aparece grávida. O pai fica furioso e pergunta por que não usou camisinha, idiota! Eu respondo por ela: não teve coragem para se impor diante do namorado “machinho”. Elas são assim… Exceções? Me apresente.