Intuição e desejo
Colunistas
sexta-feira, 04:00 - 22/07/2016

O redator não devia ter como fechar a página do jornal, então, colocou lá num cantinho a frase de incentivo aos leitores: - “Faça o que sua intuição mandar”. Intuição, aí está uma palavra que segundo muitos psicólogos e observadores da condição humana é palavra tipicamente “feminina”, isto é, mais adequada às mulheres. Dito de outro modo, as mulheres teriam intuições mais afinadas que os homens, certo ou errado? No meu sacrossanto juízo, errado.
Antes de mais nada, vamos lá, o que é intuição? Aprendi nos primeiros dias de aula na Faculdade de Psicologia da Puc/RS que “intuição é conhecimento sem consciência, sei que sei mas não sei por que sei...”. Mas que fique claro, a intuição tem pai e mãe, de outro modo estaríamos diante do efeito sem causa.
A intuição, esse sentir o cheiro do que vai acontecer, depende das nossas memórias, das experiências passadas, depende dos nossos desejos, dos nossos medos e de tudo o que está nos porões da mente. Daí sai também aquilo que na prosa ou na poesia se chama de “inspiração”. Mas a inspiração, a ideia que aparentemente surge do nada, surge sim de algo que sabemos de modo “inconsciente”.
E por que as mulheres seriam mais talentosas diante da intuição? Por questões históricas e de sobrevivência, a mulher sempre precisou – e precisa ainda – de estar “atenta”, esperta para o “bote” alheio, a mulher sempre foi tratada pelos homens como um “objeto” de posse ou exploração. E, pior, ainda hoje é assim. Há muito disfarce sobre isso, muito, ó...
Agora o que é preciso ser dito é que não devemos confundir intuição – esse sentir o cheiro do que vai acontecer – com desejo. Muito comumente confundimos desejo, o que queremos, com o que estamos “vendo” que vai acontecer. Na verdade não estamos intuindo, estamos desejando. Separar bem essas vivências pode evitar-nos graves danos à vida. Afinal, uma intuição pode nos levar a bons momentos, confundi-la com um desejo pode nos levar à ruína. Bom saber.
Pois é, o editor do jornal não tinha o que colocar num canto da página para fechá-la, e eu não tinha assunto. Obrigado, cara. É mesmo função dos editores ajudar seus não inspirados redatores... E isso não é intuição minha, é certeza.
Consciência
Volta e meia, Tribunais Eleitorais lançam campanhas de “Voto Consciente”. Subliminarmente, isso significa que muitos dos eleitores brasileiros são estúpidos? Evidente que sim. Gente que vota por dever, que sai de casa rangendo dentes porque tem que votar, gentinha que vota em cantor sertanejo por ser o idiota um cantor, ou ator, ou jogador de futebol, ou vizinho ali da esquina, ou qualquer bisca, enfim, votam jogando o voto fora. Depois a gentinha sai clamando contra os políticos ou batendo panelas contra eles. Os políticos são a vontade do povo, tem a cara do povo. Do povo por maioria. Um horror.
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