“Geleiras afetivas”

Por: Luiz Carlos Prates

12/12/2018 - 13:12 - Atualizada em: 12/12/2018 - 13:34

Você não está só. O mundo tem mais de 7 bilhões de pessoas, mas… todas iguais a você. Sabes por que digo isso? Porque já cansei de ouvir alguém dizer: – Ah, como eu gostaria de ser como a fulana! E outro diz: – Ah, como eu gostaria de ser como o fulano.

Ocorre que quando a fulana, quando o fulano fecha a porta do quarto de dormir eles são exatamente iguais a você. Ou a mim e eu a eles, somos todos iguais. Por fora podemos ser tomados por diferentes, só por fora. Por dentro, somos todos desamparados.  Quando estamos ajeitando o travesseiro para dormir – ou tentar dormir – estamos sós, mesmo que exista alguém por perto, ao lado.

Já foi muitas vezes dito aqui que – “Quem tem vida interior não sente solidão”. Mas o que é vida interior, quem tem vida interior?

Esta arenga toda, leitora, leitor, tem uma causa. Encontrei essa causa num jornal de Porto Alegre. Tratava de uma mulher, de meia idade, que estava numa profunda depressão, segundo ela mesma. Rezava, rezava e nada… Um dia, ao meio de uma oração, ouviu uma voz. E essa voz dizia a ela a sair por aí abraçando pessoas, que isso a faria bem e que ela tentasse.

Ela deu ouvidos à voz, pintou um cartaz e foi para as ruas. No cartaz, lia-se: – “Quer um abraço? É grátis”. Feito isso, foi para as ruas. Apareceu uma primeira pessoa e… aceitou. Trocaram um apertado abraço.  Veio um segundo, um terceiro e até hoje já uma multidão. Pessoas parando para receber um abraço.

A mulher, outrora depressiva, conta que não sabe mais o que é depressão, que os abraços “distribuídos de graça” a curaram. É de pensar.

Primeiro: será que ela ouviu mesmo uma voz vinda do além, do não-sei-de-onde?  Não. A voz que ela ouviu foi dela mesma, dando-se conta de que vivia em solidão, a solidão dela mesma.

Quando passou a abraçar pessoas e ser abraçada, sentiu a vida nos braços. Todos estamos nesse barco, todos. Uns bem mais outros nem tanto, mas… todos precisamos do calor de pessoas e de dar às pessoas o nosso calor. Vivemos numa geleira emocional/afetiva, precisamos ligar o ar quente dos nossos melhores afetos, todavia… que não precisemos de erguer um cartaz para isso.

Relógio

Que falta de ouvir no rádio músicas com ritmo, bem interpretadas, com letras idílicas, talentosas, que falta! Ontem, liguei acidentalmente o rádio e… Não é que ouvi uma preciosidade. A cantora dizia na letra da música: – “Olho a todo momento para o relógio/ para ver quanto tempo falta para te esquecer”. / Não é lindo? – Ah, você tem razão, sou brega!

Vida

Alguns treinadores do basquete americano costumam enfatizar aos seus jogadores que a vitória é uma contingência, sim ou não, mas que jogar com qualidade é uma imposição. E o que é jogar com qualidade? É jogar com o máximo de empenho, esforços e virtudes éticas. Quem fizer isso será sempre um vencedor. Os treinadores têm toda a razão, e esse modo de ser e viver vale para todas as nossas relações na vida, vale muito nos casamentos. O caráter dele e dela fazem o casamento da “vitória”.

Falta dizer

Se uma pessoa fosse capaz de ler todos os livros do mundo, todos, mas nunca tivesse levantado da cadeira para fazer alguma coisa, seria um refinadíssimo estúpido. Só a ação nos faz gente, nos faz ser e ter. Os vadios vivem no inferno, dissimulando. À ação, trastes!