“Criar galinhas”

Por: Luiz Carlos Prates

11/12/2018 - 09:12 - Atualizada em: 11/12/2018 - 09:33

Não sei se é por ser jornalista, psicólogo ou bisbilhoteiro da vida alheia, faz tempo que aprendi uma frase e a tornei minha. A frase é de um padre jesuíta – Baltazar Gracián, 1601-1659. Ele disse, no livro A Arte da Prudência: – “Fala, se queres que te conheça”!

Freud, por certo, tomou essa frase literalmente para criar a Psicanálise. E qualquer de nós, se tivermos ouvidos de escutar, saberemos tudo dos outros. Tudo. Fala, se queres que te conheça. Aliás, mesmo quem mente, será desmentido, desmentida, pelas próprias mentiras. Ninguém escapa.

Estes giros todos têm um propósito. Acabei de “ouvir” uma mulher, jovem ainda, “atriz”, para muitos ela é bonita… e ela também ganha muito dinheiro em publicidade de cabelos. Não é bom só ter cabelos…

Essa mulher, “atriz”, você a conhece e muito bem, fez dia destes uma frase que nem precisou de interpretação psicanalítica para revelá-la de corpo inteiro. Veja bem, ela é atriz, mas ganha dinheiro basicamente com publicidade, saiu do nada, saiu de um programa desses onde pessoas ficam semanas e semanas presas num estúdio, convivendo juntas e fazendo e dizendo bobagens, foi dali que ela saiu, quer dizer, saiu do nada…

Agora ela diz que – “Não sei como trabalho como atriz… Fazia por dinheiro, achava um porre, não sei quanto tempo ainda vou ficar nisso, é muito cansativo, é desgastante, psicologicamente exige muito. Quero estar longe disso, voltar para minha origem, ir para o interior, alguma serra, criar galinhas, sei lá…”.

Pode uma estupidez dessas? A mulher saiu da miséria para a riqueza, é rica hoje. E diz essa estultícia do trabalho que a tirou do nada… Quem fala dessa maneira de um trabalho que a tornou alguma coisa na vida revela-se inteiramente. Tenho profundo nojo de quem está sentada sobre um pote de ouro e diz que odeia ouro, fala mal do seu trabalho. Quer mudar, muda, mas não enche os tubos de quem está por perto, vá levar seu ranço para longe.

De fato, as pessoas se revelam quando abrem a boca, essa quer criar galinhas… Nada contra se ela tivesse nascido e crescido criando galinhas. O auto-respeito tem que transitar pelo orgulho e bem-estar no trabalho. De outro modo… bah, nem vou dizer o que estou pensando… Fala, se queres que te conheça! Obrigado, moça, falaste e agora te conheço!

Vício

Acabei de ouvir no rádio um grupo de camaradas “incensando” a maconha, falando da maconha recreacional, dizendo que ela não produz qualquer mal à saúde, e blábláblá. Ou é desaviso dos caras ou é outra coisa. Comprovadamente, a maconha dana muitas das funções cognitivas/cerebrais. A memória é uma das lesadas, e assim a atenção, a percepção de tempo e espaço, e outros e outros danos. Se duvidarem, que ouçam o Ministério da Saúde dos Estados Unidos, façam isso. E os maconheiros que vão ler um livro!

Modelos

Num desses almanaques de balcão de farmácia, li um anúncio sobre Massagem Modeladora. Que tipo de “modelagem”? Claro, só pode ser modelagem do corpo. Santo Deus, quando vão aparecer os modeladores de cabeças, de mentes? Mas também fico pensando, será que modeladores de cabeças teriam clientes? Seguramente, não. Os modeladores morreriam de fome. Um passaporte, por favor!

Falta dizer

Falei aí em cima sobre a possibilidade de termos no mercado modeladores de cabeças, e disse que se esses modeladores andassem por aí morreriam de fome. Mas pensando bem, esses modeladores existem sim, são os livros. Mas… as livrarias estão fechando. Povinho.