“Amizades”

Estive recentemente em um congresso em Barcelona, estudando uma das coisas que mais me fascina, as relações humanas. Este congresso em particular focou-se em não-monogamias e intimidades contemporâneas. Conversando com os colegas que também se debruçam sobre o tema, vemos o foco dos relacionamentos mudando ao longo do tempo.

Não só os relacionamentos amorosos no mundo vêm mudando, mas também as amizades. Numa palestra, a jornalista holandesa Selma Franssen contou sobre sua investigação sobre como as amizades são impactadas pela forma como vivemos hoje. Ela partiu da sua percepção de que parece haver mais desafios para se fazer novos amigos hoje em dia, especialmente na idade adulta.

Amigos são pessoas com quem temos consistência e vulnerabilidade. Pessoas com quem passamos tempo com frequência, e em quem confiamos para expor nossas fragilidades, ou em outras palavras, em quem confiamos.

Hoje em dia várias situações ficam no caminho dessas duas coisas. Selma enumera cinco fatores:

1. Trabalhamos mais

Com o advento do telefone celular, para muita gente, o trabalho não acaba quando saímos do local. Muitos de nós resolvemos coisas em nosso tempo “livre”, sempre à disposição. Muitos trabalham mais que um emprego, ou fazem muitas horas extras. Isso tudo gera mais estresse, uma capacidade menor de confiar no outro (que pode estar querendo nosso emprego, puxar nosso tapete na empresa, etc). Também reduz nosso tempo para hobbies, para fazer coisas que tenhamos vontade de compartilhar.

2. Trabalhamos em horários estranhos

Quem trabalha em turno sabe como é não estar disponível quando seus amigos estão. Ter horários imprevisíveis também nos impede de termos contato com quem amamos tanto quanto gostaríamos, quanto seria saudável.

3. Trabalhos que drenam emocionalmente

Quem lida com pessoas o tempo todo, e tem que se esforçar para ser gentil com gente grossa, botar o sorriso no rosto, engolir sapos, ou simplesmente interagir com gente demais, chega no fim do dia sem capacidade de interagir com pessoas, mesmo as que gosta. Acabamos ficando cada vez mais em casa em vez de sair.

4. Mudanças em como nos apresentamos

A preocupação de manter uma imagem social perfeita em tempos de redes sociais acaba por gerar uma insegurança maior de se mostrar frágil, vulnerável, e, portanto, desenvolver confiança nas pessoas.

5. Falta de reconhecimento

Amizades não são protegidas socialmente como importantes. Não podemos juntar nossa renda com um amigo para comprar um apartamento, como poderíamos com um cônjuge. Não podemos faltar no trabalho para acompanhar um amigo ao médico, entre tantas outras coisas que são protegidas por leis em outras formas de relação.

Tudo isso acaba por deixar amizades em segundo plano. Tendemos a nos fechar em cada vez menos pessoas que realmente temos por perto ou confiamos, as vezes apenas uma. Ao mesmo tempo, as pesquisas demonstram que a amizade é uma das coisas mais importantes para se ter uma vida feliz, e não dar atenção para elas, uma das coisas que as pessoas mais se arrependem.

Talvez seja um bom momento para estreitar estes laços que estão mais distantes.

Francisco Hertel Maiochi – Espaço Ciclos
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