“Ponto cego”

Foto Divulgação/PMJS

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

06/03/2021 - 15:03 - Atualizada em: 06/03/2021 - 15:48

Presa à identidade da minha classe,
vou de jaleco pelos corredores…
Inseguranças, modo híbrido, equipamentos digitais acompanham-me.
Devo seguir até a sala? Escuto o sinal…
Posso, sem armas, revoltar-me, afinal?
Sobram-me as proteções e os protocolos de biossegurança…
E os olhos sujos por debaixo das máscaras… que lambança!
Face shield impede-me – para o meu bem- de limpá-los ou coçá-los!
Os alunos não me reconhecem. Qual a tua face, professora?
E eu não os vejo. Somente seus olhares peculiares.
O tempo da aula é outro. Do aprendizado também.
A tecnologia está a nosso bel prazer,
Todavia, nem sempre disposta a executar o que queremos fazer.
Ah o tempo…
Escasso, insuficiente, raro para uns
E indispensável, substancial e vital para outros.
No tempo atual não há justiça.
O tempo fede. Junto com a corja que se excede!
O tempo precede atos permissivos ao vírus e este não retrocede
Em vão, tento me colocar, mas as gentes estão alienadas.
Alienação talvez seja uma boa saída?!
Para este momento cruciforme entre morte e vida.
Faça chuva ou faça sol,
O que resta é consolar os doentes e seus entes
Que choram em casa, nas ruas ou em hospitais; impotentes.
As coisas seguem num compasso “vaivém”.
Escuta-se desde “zombarias” até o “vai ficar tudo bem”!
Que triste é o cenário, sem ênfase no plenário!
Oh, uma flor ainda desbotada!
Sai do lócus “acamada” e parte debilitada e excitada,
Enquanto do lado há uma família enlutada.
O policial, o bombeiro, a funerária e a lei ordinária
Conversam com o médico e a enfermeira
Descobrindo não haver “faixa etária”…
Mas, como disse Drummond: Uma flor (re)nasceu!
e uma gota de esperança floresceu.
Há gente voltando para casa.
Livre do mal e do hospital.
Banaliza-se a morte no país; no estado,
Mas há um ser de luz que cuida dos “desamparados” e “positivados”.
Notícias parcas e suaves, me ajudam a viver.
Mesmo com o erro humano diário, que me faz padecer.
A celeridade vai acontecendo, atropelando e desrespeitando…
Os homens seguem seus fluxos; caóticos e se espalhando…
Pergunto-me: coletividade lotada?
Apavoro-me: individualidade adotada.