“Nova partida: Renascimento”

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

18/05/2020 - 13:05 - Atualizada em: 18/05/2020 - 13:28

Para ressuscitar é essencial morrer e este é um mistério colossal da fé cristã: uma expressão simbólica que retrata a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz, para a libertação, para a renovação.

É gozado que o momento atual tenha nos imposto a viver uma quaresma concernente à tradição cristã congregada à quarentena obrigatória causada pela pandemia da Covid-19 e, por que não em um segregamento do mundo externo. Jesus enfrentou um grande perigo e há dias a humanidade também vem enfrentando – em especial, os pacientes positivos para o coronavírus e os profissionais de saúde e de limpeza diretamente envolvidos.

Parece-me plausível pensar que esse é um bom sentido para darmos a nossa vida, independentemente de nossas crenças, compreendendo o atual ciclo (e a quaresma que fez parte dele) como “ressurreição; renascimento”. Uma ocasião carregada de mudanças, de aberturas, de renovação.

Renascimento, como o nome fala é “nascer de novo”, oportunizando-nos rever nossos conceitos, valores e propósitos. Dessa maneira, nada (ou pouco) muda se, apenas, olharmos para o passado e o futuro… No entanto, se olharmos para dentro de nós mesmos; tudo muda!

Vivemos um tempo favorável à meditação e avaliação de nossos atos e nossas omissões. Faz-se mister uma temporada de semeadura, a fim de agradecermos as dádivas, até então recebidas, de fazermos preces, esquecermos as mágoas e celebrarmos a vida, conectando-nos e renovando a fé.

União, empatia e gentileza

Assim surgem, manifestações solidárias de várias partes do globo: almoços coletivos para pessoas de baixa renda, abrigos para os desabrigados, livros com acessos gratuitos para o povo, músicas e arte disponíveis em “lives” na rede, limpeza coletiva em condomínios – um ajudando o outro – orações em sacada, cantorias em sacadas (em que os vizinhos se aproximam e unem-se de verdade), confecções de máscaras para a população e para os profissionais de saúde, entre outras atitudes louváveis.

Tais atos me fazem lembrar de um empresário promissor do setor de transporte de carga em Niterói, José Datrino, vulgo Profeta Gentileza, que repetia que “o mundo é uma escola de amor”. Uma de suas obras foi a pintura de murais do viaduto Caju, Zona Portuária do Rio, em que registrava mensagens a respeito de gentileza, natureza, amor, espiritualidade, males, capitalismo – cercadas pelo verde e amarelo da nossa bandeira.

Gentileza morreu e as mensagens foram apagadas pela prefeitura com tinta cinza. No entanto, artistas e povo se uniram em um movimento de restauração e tombamento desses murais. E Gentileza tornou-se frase conhecida: “Gentileza gera Gentileza!” e, também, virou música, por Marisa Monte, e suas mensagens renasceram das cinzas… “Por isso eu pergunto a você no mundo: se é mais inteligente o livro ou a sabedoria? O mundo é uma escola, a vida é o circo ‘Amor: palavra que liberta – já dizia o profeta!’”

Novos tempos para novas atitudes?

Caro leitor, sugiro que possamos nos renovar e renascer para degustar devagar o sabor desta vida; tendo em vista os caminhos do ânimo e da coragem, despertos para a curiosidade do que já conhecemos com relação à arte de amar, mas ignoramos durante o desenfreado corre-corre, deixando de crer ou experimentar, enquanto andamos ou andávamos emaranhados em uma tessitura em meio à rede de exacerbadas conexões virtuais e, muitas vezes, superficiais.

São novos tempos. Temos de dar novas partidas. Reinventarmo-nos. Renascermos. Sobre a sua primeira vitória, em Portugal, no ano de 1985, Ayrton Senna disse: “na última volta desapertei o cinto de segurança, tal era minha euforia de levantar e comemorar a primeira vitória na F1!”

Assim, nesse processo interno e externo, desaperte o cinto de segurança que lhe impede de viver plenamente junto aos seus. Deixe que reine o livre-arbítrio, no qual possamos abrirmo-nos e “dar o arranque”, ou apenas “olhar” e esperar; “abdicar de entrar” ou então, decididamente, “trafegar” pelas rotas da vida permitindo-nos, gentilmente, encontrar o desconhecido, arriscarmo-nos e achar abrigo em um legado de amor e solidariedade, em consonância com o existir.

Finalizo, então, com uma frase também de Ayrton Senna: “quero melhorar em tudo. Sempre.” E você? Também busca novas partidas? Vamos juntos nessa?

Receba as notícias do OCP no seu aplicativo de mensagens favorito:

WhatsApp

Quer mais notícias do Coronavírus COVID-19 no seu celular?

Telegram Jaraguá do Sul