Hoje, gostaria de tratar a respeito do assunto “gramática”. Durante a minha trajetória profissional, percebo que este mote sempre traz um desconforto aos alunos, mas por quê? Vamos analisar tal questão?
Você sabia que não existe apenas uma Gramática? Isso mesmo! Para ajudar na explicação, eu criei a analogia do “baú”. Não sei por que “cargas d’água”, mas sempre fui fascinada por baús.
Essa analogia consiste em fazer com que vocês imaginem que, dentro da grande área da Linguística, há diversos baús que englobam diferentes áreas de conhecimento. Cada baú tem um nome e dentro dele estão contidos seus subtemas e estudos. Parece complicado? Não é. Tente me acompanhar…
Primeiramente, há um grande baú que abarca os tipos de gramática: a) a internalizada, b) a descritiva e c) a normativa ou tradicional – essa velha conhecida da gente!
- a) A gramática internalizada corresponde àquela que “abriga” o conjunto de regras que o falante efetivamente sabe. Aquelas regras que as pessoas adquiriram quando crianças e aplicam na sua comunicação diariamente. Ou a habilidade de que dispõe o falante desde o momento em que ele começa a se mostrar apto a exercer os primeiros contatos com a língua(gem). Em geral, analisamos essa gramática na fala das crianças ou em hipercorreções de adultos.
- b) A gramática descritiva é aquela que estuda o conjunto de regras que os falantes seguem, que podem ser diferentes das regras prescritas pela gramática normativa. Dizemos que a descrição dessas regras ocorre baseada na análise de comunidades linguísticas e das variações e mudanças nas línguas dos falantes; a preocupação reside em registrar a língua como ela realmente é falada (o que não significa que ela não tenha regras ou que seja errada).
- c) A gramática normativa (ou tradicional) é a que normatiza as regras da Língua a serem empregadas pelos falantes. Todo mundo já deve ter ouvido falar e, alguns, têm certa aversão a ela, pois corresponde àquela que aprendemos na escola como sendo a norma padrão (e exclusiva) da Língua.
Em relação à Gramática Normativa, podemos imaginar um baú especial para ela, neste momento! Dentro dele, estão encaixados outros baús que se referem aos estudos de: Fonética e Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica. Cada pequeno baú que se encaixa no grande requer um olhar particular, uma vez que observa partes diferentes do funcionamento da Língua.
Para que nenhum de vocês se sinta chocado, sugiro encarar os estudos da Língua(gem) como de fato são: “pequenos fundamentos que se ligam a uma parte maior”. Cada pedacinho desses juntos, formam a nossa Língua Portuguesa – um Todo complexo, dinâmico e vivo, que não caracteriza nossa Língua nem mais fácil, nem mais difícil, mas singular; e linda, né?
Como já cantou Caetano: “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões. Gosto de ser e de estar. E quero me dedicar a criar confusões de prosódias, e uma profusão de paródias que encurtem dores e furtem cores como camaleões […]”