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“Era uma vez…”

Menina de mãos dadas com adulta, ambas de máscara

Foto: Reprodução/Pexels

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

27/03/2021 - 17:03 - Atualizada em: 27/03/2021 - 17:43

Um vírus que se instalou no mundo e mudou a vida e rotina de todos. O nome dele: “Coronavírus”.

Era uma vez. É estranho. O verbo insiste em ser conjugado no passado, não me permitindo conjugá-lo no presente ou futuro e escrevendo história junto com o “Corona” e com um povo marcado. No momento o verbo ficou lá – imóvel, acuado – para os que precisaram de hospitais e UTIs e/ou estão precisando…

Eis que ouço um canto! Escuto proferirem algo sobre Alceu Valença e Zé Ramalho… Será o verbo se fazendo presente?

– “Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal”.

A canção cessou e o narrador de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” pegou a minha mão, seguiu ao meu lado e me disse:
– Viu só! “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Ao que lhe respondo, com o olhar arregalado:

– Tive filhos.

O amor de mãe consegue trazer o verbo para o futuro: “SERÁ”. Dado Villalobos, Marcelo Augusto Bonfa e Renato Russo chegam também para a conversa:

– “Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?”

Nisso, alguém vem correndo rápido e grita com voz imponente:

– Éramos livres! Éramos… uma vez. E, então, notamos Dom Pedro I e Evaristo da Veiga que cantam em tom forte o Hino à Independência do Brasil:

– “Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil”.

O verbo insiste em não ser conjugado no presente. Só passado. E futuro. Toquinho e Vinícius de Moraes escutaram o barulho da conversa e se achegaram cantando:

– “Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo (que descolorirá)
Que descolorirá
Que descolorirá”.

Pausa

Tem um pensamento de Dalai Lama que circula muito por aí: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto HOJE é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”

Por isso, venho aqui hoje fazer esse apelo! Eis que, para minha surpresa, o verbo me permite usá-lo no tempo presente (dando-nos, ainda, a oportunidade deste momento). Escolho conjugá-lo na primeira pessoa do plural do presente do indicativo: “NÓS”!

– “Vamos” nos unir e ver o mundo, novamente, se colorir!

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Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

Doutoranda em Linguística pela UFSC, atua como professora de Língua Portuguesa e Redação e escritora, membro da Academia Desterrense de Literatura, ocupante da cadeira 6. É autora de livros e artigos na área da Língua Portuguesa, Literatura e Educação.