“E o pulso, ainda pulsa…”

Foto: Divulgação/Glauce Gaziri

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

17/11/2020 - 16:11 - Atualizada em: 17/11/2020 - 16:16

Olá, leitores! Hoje venho aqui propor uma reflexão com base na minha experiência pessoal de ter sido testada positiva para a Covid-19. Logo eu? Logo nós (que tanto cuidamos!)! Pois é. Muitos fatos não se explicam… Peço perdão porque a reflexão ficará, certamente, fragmentada, haja vista que estamos ainda em meio ao processo e processando tudo…

Comparo minhas conjunturas a um tapete daquele de retalhos; antigos, que tanto vi em torno da casa da minha vó, em minha infância. Tento seguir aqui, em meio às vivências, juntamente com a família (ah os filhos!), emendando os recortes do que estamos passando em um todo – que se originará em um amontado de pensamentos, sensações, inseguranças, certezas, fé, tristezas, alegrias, dores, risos…

Somos sintomáticos. Sintomas fortes e variados. Contamos com ajuda médica especializada e ótimo tratamento, incluindo toda a nossa força de vontade. Há muitas situações tensas e outras engraçadas… E já estamos até conseguindo rir das tensas – o que considero uma dádiva!

Por exemplo, perdemos a força física, no entanto, somos pais de duas crianças saudáveis: uma em idade escolar (8 anos – que, inclusive está participando de uma gincana escolar concomitante a nossa situação); outra com 1 ano e 8 meses; curiosa e feliz, que começou a andar na quarentena, ainda mama no peito e explora cada novidade deste mundo.

Acrescento, ainda, que a indicação é repouso, ingestão de líquido e leveza na alma! Mas, alguém me passa a receita de como se “repousa” entre quatro paredes (vivemos em um apartamento) com duas crianças? Seguimos dentro das nossas reais possibilidades. E é assim, cada um dentro da sua realidade lutando contra esse inimigo invisível e horrível. Estamos melhorando, graças a Deus!

Infinito de vida que pulsa ao nosso redor

Bem, nesse ínterim, tenho me permitido entender algumas sensações… E as doloridas de isolamento e impotência, muitas vezes, sucedem quando olhamos demais para nosso próprio umbigo… Todavia, além dele – e dentro dele – há um infinito de vida pulsando. Alguém já se deu conta? Já disseram Marcelo Fromer, Antonio Bellotto e Arnaldo Filho: “e o pulso ainda pulsa”… Abra-se a esta percepção.

Nesse período, compreendi que o pulso da vida pulsa e continua pulsando num fluxo contínuo, dando sinais diversos… Estava amamentado a Maria no meu quarto. Era de noite. Janela fechada, mas com frestinha aberta. A natureza lá fora convidativa nos chamava: passarinhos cantando, o barulho do balanço das árvores, o vento, o luar. E nós duas começamos a conversar e a ouvir… Pomo-nos a rir. E temos um costume diário: damos “oi” para o sol, “tchau” para o sol, “oi” para a lua… e assim seguimos nesse fluxo.

Aceitando o convite do diálogo da natureza e (re)conectando-nos com nosso “eu” interior sempre, porque ele sempre nos mostra que nunca estamos só… Por mais desafiadores que pareçam alguns de nossos momentos aqui na Terra, estamos e estaremos sempre entrelaçados e amparados pelo “todo” ao qual pertencemos.

Vale ressaltar que essa fase me indicou que somos seres sensíveis, permeáveis, penetrantes, sensitivos e abertos – e não meros corpos físicos e psíquicos mecânicos otimizados a serviço de um sistema (imposto), como somos seguidamente condicionados a pensar e agir. Certamente, através de nosso ser agitam-se muitas frequências de energia – e elas não necessariamente começam ou terminam na gente! Por esses motivos, receba as melhores energias e deixe que a sua possa fluir…

Desse modo, então, silencie; recolha-se se sentir uma incompreensível e forte agitação. Não queira somente respostas e nem queira apressar o que precisa finalizar o ciclo. Aceite e entenda o tempo. Não exija explicações quando as coisas não lhe parecerem bem. Muitas vezes, são simples processos que precisam se efetivar: suspiros ou sopros da vida acontecendo na gente! Pausas. Necessárias. Eu sei que esse curso vai de encontro ao tempo… mas tentem me acompanhar…

Oportuno se torna dizer, que a frase “Time is Money” foi ressuscitada pelo físico Benjamim Franklin e imortalizada nas teorias de Frederick Taylor e Henry Ford, como estímulo e motivação para aumento de trabalho nas linhas de produção de dada mercadoria e produto, alastrando-se como rastilho de pólvora pelo mundo. Esse triste “mantra” capitalista “Tempo é Dinheiro” se sobressai como um vestígio denso sobre o povo, e todos são, de alguma maneira, impactados por ele, conscientemente ou não.

Avalio que produzir, agir e se organizar é benéfico para alcançarmos nossos objetivos, concretizando nossos projetos e realizando nossos sonhos; além de buscarmos fazer uma passagem frutífera aqui pela Terra, semeando bons frutos. No entanto, temos de nos atentar para um movimento forçoso coletivo que nos pressiona, freneticamente, a “não parar”. Carecemos de aprender a aproveitar nosso tempo, interior e exterior, com maior alegria, gratidão e leveza.

Uso valioso do tempo

Assim, escute seu interior. (Re)Conecte-se com a natureza externa e interna que há ao seu redor e em você. O pulso ainda pulsa. Sinta-o. Viva-o. Entenda-o. Dê créditos à sua intuição. O “não-agir” parece não ter aprovação em uma cultura movida pela economia “que não pode parar”. Todavia, o que realmente te sustenta, te nutre? Como você escolhe gerir seu tempo? E como vem se sentindo quanto a isso?

O tempo de inspirar-se e deixar-se contemplar é tão valioso quanto o de mostrar seu desempenho e sua performance. Porém, quem tem coragem de validar essa ocorrência? Já nos disseram “Os Mutantes” (Arnaldo Baptista, Rita Lee Jones de Carvalho, Roger Ranson), na “Balada do Louco”: Se eles têm três carros, eu posso voar…”. Voe. Aterrisse. Caminhe. Siga o seu fluxo.

Nessa vereda, quando estivermos inteiramente vigilantes às flutuações físicas, psíquicas, emocionais e espirituais próprias da vida e de seus ciclos – conseguiremos eleger o bom e salutar uso do nosso valioso tempo, para além de querer só manter o tal sistema “mundano”, mas visando ao sagrado que habita em nós e na vida! Por tais razões, professo junto aos Mutantes (que nome lindo!): “dizem que sou louco, por pensar assim. Se eu sou muito louco, por eu ser feliz. Mas louco é quem me diz… E não é feliz, não é feliz…”.

Por derradeiro, e como de início frisado, acompanhada de Mário Quintana proponho: “(…) Lembra que o que importa, … é tudo que semeares colherás. Por isso, marca a tua passagem, deixa algo de ti, … do teu minuto, da tua hora, do teu dia, da tua vida.”

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