“Do bugado ao lagado”

Foto Aquivo OCP News

Por: Ana Kelly Borba da Silva Brustolin

03/07/2020 - 16:07 - Atualizada em: 03/07/2020 - 16:40

A educação a distância vem exercendo um papel extraordinário na sociedade no momento atual. Confesso que, no início da pandemia do coronavírus, indaguei-me inúmeras vezes sobre as ações docentes e discentes neste ambiente de interação. Tudo se apresentava e ainda se apresenta novo e desafiador. Mas, nós professores, não paramos e estamos nos descobrindo e ressignificando diversos conceitos por meio das ferramentas tecnológicas que estão a nossa disposição nesse período excepcional.

Já me questionei muito (e imagino que vocês também) a respeito dessa maneira peculiar de ensinar e aprender e de realizar trocas. Avalio que encontramos o equilíbrio estando em movimento e, neste caso, todos buscamos meios de acertar a melhor alternativa para interagir com os alunos e os saberes. Daqui um tempo podem dizer que estava tudo errado, todavia estamos tentando agir e seguir em frente, apesar dos pesares, e corremos o risco de acertar em alguns aspectos. No que toca à vivência de sala de aula, costumamos dizer aos alunos que aprendemos muito com os erros também, ou seja, tentar sempre; desistir jamais!

Então, interação na educação a distância é, hoje, necessária? Sim. E tem ajudado muito a nos manter conectados e em um ritmo de aprendizagem. Se tem aluno que está “mutado” e não vai assistir à aula? Tem sim. A aula está sendo ministrada e, muitas vezes, o aluno também fica “mutado” em sala, apesar da presença física. Responsabilidade e autonomia são características necessárias para as aulas presenciais e on-line. A sala de aula virtual ou ambiente virtual tem favorecido as interações entre professor/aluno; aluno/aluno; aluno/hipertexto na recente conjuntura.

Antes de as aulas acontecerem em período real, gravávamos as aulas e disponibilizávamos aos estudantes. Porém, quando iniciamos essa maneira “mais pessoal” de interagir e fazer trocas o saldo me pareceu mais positivo e nosso emocional também ficou mais acalentado, assim como o dos (meus) alunos – que deram seus feedbacks positivos no tocante a este caso.

A meu ver, as tecnologias da informação e da comunicação estão submersas no contexto sociocultural e, por essa razão, as transformações educacionais podem se congregar às inovações, cooperando a serviço da sociedade. De acordo com a teoria vygotskyana (VYGOTSKY, 1998), o desenvolvimento do indivíduo está ligado às interações entre o homem, a sociedade, cultura e sua história de vida; aspecto que compreende as condições de aprendizagem, as oportunidades e as múltiplas influências externas ao indivíduo.

O aluno alarga as conexões linguísticas, geográficas e interpessoais, interagindo com numerosos textos, imagens, linguagem culta e coloquial, diferentes espaços, culturas, entre outros. O educando amplia, assim, a aprendizagem interativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados. Segundo Freire (1978), um dos principais desafios da comunicação para a educação, hoje em dia, é permitir e incentivar a expressividade e a participação do aluno.

Linguagem em constante transformação

Bem, a minha experiência real tem sido arrebatadora. Os alunos, de faixa etária compreendida entre 11 e 16 anos, têm participado e se mostrado mais bem preparados do que eu imaginava… Inclusive, venho aprendendo novos termos e novas possibilidades de uso de ferramentas com eles – o que considero maravilhoso, uma vez que temos de romper barreiras com um método de ensino antigo, analisar o que foi frutífero e continua e o que pode ser transformado a fim de buscar meios para ensinar de um modo profundo, interativo e qualitativo esta nova geração (que possui acessos bem distintos ao que possuíamos na nossa época).

Pare um momento e reflita: quantas expressões da internet você já passou a usar, na escrita ou na fala? Bugar, baixar, tuitar, compartilhar, trollar, selfie, live entre outras. E, não sei se vocês sabem, mas alguns desses termos provenientes da internet já constam em dicionários, como o Aurélio e o Michaelis. Isso porque a língua é dinâmica e está sempre em constante transformação. Da mesma forma que ela “embarca” novas expressões, outras acabam “desembarcando”…

“Não curti o post dele”, “compartilhe a live aí com a gente”, “deu bug aqui”, “ah, para de me trollar”, “professora, tem alguém aí mutando o pessoal da aula!”, “queria que vocês estivessem mais conectados comigo neste momento”, “Vamos fazer uma selfie hoje?”.

As referidas expressões poderiam caracterizar um diálogo habitual entre pessoas em interação em uma rede social e o mundo da internet, mas verbos como curtir, compartilhar, bugar, trollar, mutar e conectar, até pouco tempo, ou tinham outro significado ou eram característicos da internet, e hoje já estão presentes na conversação de muitas pessoas.

Interessante, não? Vivendo e aprendendo. Sou apreciadora dos ditados populares. Há dois significativos para o período: “A união faz a força” e “Cada coisa a seu tempo”.

Da internet para o mundo real

Bem, para finalizar, convido-os a conferir oito termos da internet que foram oficialmente reconhecidos por dicionários, de acordo com minha pesquisa.

  • Baixar: Receber um arquivo através da rede mundial de computadores. (Michaelis)
  • Blogue: Página pessoa ou coletiva, atualizada periodicamente, em que os usuários podem trocar experiências, comentários, etc, geralmente relacionado a uma determinada área de interesse. (Houaiss; Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Bug: Defeito, falha ou erro na lógica ou no código de um programa que provoca seu mau funcionamento. (Michaelis; Houaiss; Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Deletar: Apagar, cancelar, suprimir (texto, arquivo, documento) / apagar da memória; esquecer. (Michaelis; Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Trollar: Zoar, irritar, chatear alguém por meio de uma zoação intensa que busca perturbar ou enfurecer a pessoa que dela é alvo. (Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Tuitar ou Twittar: Comunicar-se por meio do Twitter. (Aurélio, com a grafia “tuitar”; e Michaelis, com a grafia “twittar” e Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Selfie: Fotografia que uma pessoa tira de si mesma, geralmente com um celular, e publica nas redes sociais. (Michaelis; Dicio – Dicionário Online de Português)
  • Lacrar: Arrasar; sair-se bem; ser bem-sucedido em algo; obter sucesso. (Dicio – Dicionário Online de Português)

Portanto, notamos que muitas palavras atravessam a barreira do on-line e ganham espaço no mundo real.

Ah, quanto ao título: “Do bugado ao lagado”, acabei de aprender um novo termo hoje com meus alunos durante a aula virtual de língua portuguesa. De acordo com os alunos, lag é uma palavra em inglês que faz referência a atrasos na comunicação entre computador (internet, por exemplo), podendo aplicar-se a outras situações, como comunicação via satélite ou mesmo em comunicação escrita. Assim sendo:

  • Lagado: Gíria relacionada a computadores. Diz quando o sistema ou jogo começa a travar. Exemplo: Meu Instagram está lagado, ou seja, está demorando muito para carregar a página.

Bem, após ter dado aula on-line, participado de uma live e escrito este texto, chegou a hora de me desconectar um pouco, a fim de gozar da liberdade com o “modo avião” acionado. Au-revoir!

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