Tum-tum! Cof-cof! Booom! Chuá-chuá…
O assunto meio ambiente urge reflexão, nos chamando à conscientização sobre as graves violações provocadas pelo ser humano que explora mal os bens desta Mãe Terra, cultivando maus hábitos e negando as sábias tradições de povos originários.
Em um mundo tão conturbado, muito se fala a respeito do tal “equilíbrio” – em todos os setores –, mas a busca pelo equilíbrio vai além da harmonia entre os seres humanos, haja vista que compreende a relação fraterna entre estes e a natureza, bem como entre estes e o mundo espiritual, os demais seres sencientes, as diferentes culturas e identidades, os largos conhecimentos e sabedorias pulsantes e existentes. Precisamos (re)aprender a nos colocar no lugar do outro e apreciar a valorização da diversidade e da equidade no lugar da mera igualdade formal.
Celebrar a vida é direito de todos! Atentemo-nos, portanto, aos pequenos atos: nossos e dos outros (que se dedicam a cuidar do ambiente nos lugares onde vivem), fazendo florescer generosidade e gentileza pelo verde e colorido percurso, protegendo a vida em curso.
É necessário distinguirmos “o Bem Viver e o bem-estar social”. Lemos em Ailton Krenak (2020), liderança indígena e imortal da Academia Brasileira de Letras, que o conceito de bem-estar está intrinsicamente ligado à sociedade de consumo, que trata a natureza como algo suscetível à exploração, capaz de fornecer recursos infinitos e ilimitados, enquanto estabelece a superioridade da espécie humana e não reconhece a nossa interligação e a interconexão com ela e os demais seres. Todavia, as causas das agressões ao meio ambiente relacionam-se aos pilares culturais, políticos e econômicos, que demandam amálgama de valores para um desenvolvimento ético, responsável e sustentável. O que estamos fazendo atualmente para resguardar a natureza?
Sabemos que educar e investir no ser humano consciente e responsável, pode ser um bom caminho para seguirmos agindo, além de caber às autoridades e à sociedade a responsabilidade e o compromisso com a vida e o efetivo exercício cidadão.
Aliás, uma bela canção para mostrar às crianças (em casa e na escola) trata-se de “Passaredo”, de Chico Buarque – que já fez parte da trilha sonora de “Sítio do Picapau Amarelo”, na década de 1970. Além de voar, os pássaros são conhecidos por seu cantarolar, e Chico Buarque parece ter retribuído os belos cantos dos pássaros à altura, em “Passaredo”, pois é uma bela canção e homenagem aos pássaros do Brasil, visto que cita uma lista imensa deles. Você é conhecedor do assunto? Se sim, ou não, acompanhe um trecho: “Ei, pintassilgo, oi, pintarroxo, melro, uirapuru, ai, chega-e-vira, engole-vento, saíra, inhambu, tordo, tuju, tuim…”
Ah, importante mencionar que a canção ainda apresenta a nossa “má fama” e impacto negativo entre estes seres. Em certo momento da letra, há um diálogo entre os pássaros: “Bico calado! Toma cuidado, que o homem vem aí, o homem vem aí…”
Guilherme Arantes também traz em sua canção, “Planeta Água”, um verdadeiro manifesto pela preservação da água, recurso tão basilar para a vida e que representa mais de 70% da superfície do nosso planeta e da composição de nossos corpos. Não à toa o refrão alude: “Terra, planeta água!”. Destaco o trecho: “Águas escuras dos rios, que levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população.” Contudo, infelizmente, é um recurso tão maltratado pelo estilo de vida que temos adotado, seres humanos de míopes interesses econômicos.
Luiz Gonzaga, um dos maiores expoentes da cultura nordestina brasileira, também se preocupava com as questões ecológicas. Em “Xote Ecológico”, compôs em parceria com Aguinaldo Batista, e o nosso rei do Baião cantou: “Cadê a flor que estava aqui? Poluição comeu. E o peixe que é do mar? Poluição comeu. E o verde onde é que está? Poluição comeu. Nem o Chico Mendes sobreviveu.”
Assim sendo, vemos que o “progresso” e a “modernidade” conectam-se à cultura e à razão, enquanto o tradicionalismo e os saberes ancestrais à natureza e à sensibilidade, o que talvez justifique o modo de serem vistos como atrasados e inferiores. Mas caberia uma tentativa de equilíbrio entre esses para preservarmos a vida.
Neste ano de 2025, motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, e entre outros motivos; o tema escolhido para a Campanha da Fraternidade (CF) foi: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). De acordo com o “Objetivo Geral da CF 2025”, este ano a temática ambiental retorna com o intuito de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”.
Nessa vereda, boa vontade e elaboração de políticas públicas justas, com gestões éticas integradoras são essenciais, assim como as ações dos governos necessitam ser mais eficazes, contemplando: fiscalizações severas, aplicação de recursos em saneamento básico, controle do uso do solo, manutenção dos recursos essenciais de modo sustentável, conhecimento e educação ambiental.
Pois bem, não há planeta reserva! Só este: Planeta Terra. E, acreditem, apesar de ele viver sem nós, nós não vivemos sem ele. O tempo é hoje; agora. Carecemos de uma urgente conversão ecológica, ou seja, passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório de recursos infinitos – onde se permite retirar tudo o que, como e quanto quiser – para uma lógica do cuidado e da responsabilidade, que enxerga, sente e compreende a Terra, de fato, com o respeito que ela merece, um reservatório de recursos finitos, como já mencionaram diversas referências, entre elas, Pablo Sólon, na obra “Alternativas sistêmicas”, em 2019.
Nesse ínterim, precisamos nos entender e enxergar como parte da natureza, da Mãe Terra (Pachamama), e não como um mero ente que está fora dela, em posição de superioridade. Nessa visão, as mudanças são sempre cíclicas, nunca lineares, e nós mudamos de dentro e em sintonia com a nossa comunidade e com o Planeta. Portanto, caminhemos em direção a este entendimento.
Tum-tum, quá-quá, ahn ahn ahn, glub glub, cocóricó, bem-te-vi, quero-quero, coró-coró, tum-tum…