Foi com indignação e pesar que testemunhamos a Mesa Diretora curvar-se diante de uma injustiça perpetrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O tribunal jogou votos legitimamente dados no lixo, em um ato de futurologia e inventando uma nova hipótese de inelegibilidade – roubando do Legislativo a prerrogativa de legislar. Mais uma vez, o Poder Legislativo permitiu que cortes superiores legislassem, ignorando a vontade do povo que tantas vezes em Brasília é barrada do lado de fora de seus palácios.
Meu primeiro ato ao receber a notícia e ver a tristeza de minha equipe foi relembrar os momentos que passamos ali no Gabinete 739 trabalhando para um Brasil mais justo e próspero. Ao longo deste mandato, tive a honra de servir ao lado de uma equipe altamente preparada, e sou grato a cada um deles. Foram 221 medidas apresentadas em 125 dias, um grande esforço para melhorarmos nossa nação.
A aprovação de um projeto de lei para defender os autistas em apenas três meses e a coordenação de um gabinete de fiscalização do governo com 27 parlamentares exemplares foram conquistas das quais me orgulho profundamente. Foi um privilégio e uma responsabilidade subir à tribuna para denunciar abusos e arbítrios, dando voz à indignação de milhões de brasileiros. Com palavras, ações e muito trabalho, busquei honrar cada voto recebido.
Desde o meu ingresso no Congresso Nacional, muitos me aconselharam a aceitar os jogos do sistema, fazer acenos, criticar menos ou até mesmo fazer concessões para obter benefícios pessoais. No entanto, afirmo categoricamente que não teria agido de forma diferente para manter o mandato. Não teria participado dos jogos sujos, aceitado acordos imorais, proferido falsas promessas ou deixado de dizer a verdade para agradar os poderosos de Brasília. Ouvi até que minha batalha contra o PL da Censura teria me custado o mandato.
Deveria então desonrar aqueles que em mim votaram para agradar aqueles que me julgariam? Jamais. Podem levar o meu mandato, mas não roubarão a minha alma, os meus valores, a minha fé e o meu compromisso de honrar e representar meus eleitores. Em um de meus últimos atos, eu desci ao Plenário e lá recebi o firme apoio dos colegas que estavam presentes. Poucos estavam lá por conta do feriado, em que a Câmara tem sessões remotas. Do lado direito da Tribuna, grandes amigos me honraram com suas vozes.
Do lado da esquerda, um deputado petista atacou a Lava Jato e seguiu com suas falsas narrativas. Pouco depois, Zeca Dirceu passou com outro petista que disse em alto e bom-tom: Tchau, Querido! Se a intenção era ferir, o efeito foi o oposto. Tripudiar sobre votos democráticos me dá mais certeza de que estou do lado certo. Aqueles que celebraram minha cassação parecem esquecer que cassar um mandato não elimina (e até fortalece) o apoio daqueles que compartilham os mesmos ideais. Aqueles que sonham com um Brasil mais justo, próspero e fraterno permanecerão ao meu lado e mais estão se unindo a nós, independentemente do cargo que eu ocupe.
A conexão com os eleitores, e mais, com os brasileiros, vai além de uma posição política e é baseada em valores compartilhados e na busca comum por um futuro melhor. O escárnio e vingança dos corruptos e seus defensores só nos une mais. Sei que milhões de brasileiros também preferiram ser punidos por serem íntegros a serem aplaudidos por serem corruptos.
No cenário político brasileiro, a integridade é frequentemente vista como uma raridade. Políticos que se mantêm fiéis aos seus valores e se recusam a participar de conchavos obscuros são muitas vezes marginalizados e punidos. A descrença na classe política é compreensível, mas é essencial reconhecer e apoiar aqueles que genuinamente se dedicam a fazer a diferença. Honrar os eleitores vai além de cumprir mandatos e buscar benefícios pessoais. É uma questão de princípios, ética e compromisso com a verdade.
Durante o meu tempo no Congresso, busquei ser a voz daqueles que acreditaram em mim, denunciando abusos, defendendo os direitos dos mais vulneráveis e lutando por um país melhor. Nesse caminho, eu fui surpreendido por outros que também carregam esse dever de servir os eleitores em seus corações. E não são poucos. Muitos surgiram como efeito das manifestações populares da década passada. O povo rejeitava os políticos e muitos políticos surgiram do meio desse levante que dignificam o cargo de deputado.
Levo da Câmara dos Deputados grandes amigos e mais fé na política. Deixei o Congresso Nacional com a consciência tranquila por ter honrado os meus eleitores. Diferentemente de muitos casos que mancham a política, não fui cassado por corrupção, envolvimento em escândalos ou benefícios pessoais ilícitos. Meu “crime” foi ser fiel aos meus valores, honrar a lei e dar o meu melhor para que políticos corruptos finalmente pagassem pelos seus crimes.
Há uma frase do filme “Tropa de Elite 2” que representa bem Brasília: “O Sistema é f*”. E é mesmo, ele pune inocentes ao mesmo tempo que protege culpados. No entanto, é crucial ressaltar que essa batalha não se encerra agora e seguiremos lutando para que um dia os cassados sejam aqueles que desonram seus eleitores e os que assaltam os cofres públicos. Por mais forte que o Sistema seja, ele não é invencível. Os mesmos votos que o sistema desonra podem vencê-lo. É preciso organizar esforços nessa direção.
Perdemos uma batalha, mas não perderemos a guerra.