Nascido no dia 15 de dezembro de 1922, o jaraguaense Walter Carlos Hertel atuou com destaque na cultura, no esporte e no comércio da cidade por décadas. E também cruzou o oceano, pegou em armas e lutou na Segunda Guerra Mundial contra os nazistas pela Força Expedicionária Brasileira.
E agora, parte dessa vida fantástica ganhou um registro memorável: a publicação de “Diário da Segunda Guerra Mundial” (Design Editora, 198 páginas) de Walter Carlos Hertel, que foi organizado por Dionara Radünz Bard e traz a transcrição integral de seus diários, fotografias e mais alguns complementos, como quando revisitou os locais de combate décadas depois.
O lançamento ocorreu no espaço panorâmico da Scar na noite da última quinta-feira (15), dia do seu centenário. Walter foi homenageado por lideranças políticas e culturais da região: o prefeito municipal de Jaraguá do Sul, Jair Franzner, a Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Natália Lúcia Petry, o deputado estadual eleito Antídio Lunelli, e o membro do Conselho de Administração da Scar, Gilmar Moretti, ressaltaram a importância do expedicionário em diversos setores da sociedade.
O deputado estadual Vicente Caropreso entregou uma Moção de Aplauso da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc) ao ex-pracinha.
Todos os presentes receberam um exemplar gratuitamente ao final do evento. O livro não será vendido, mas sim distribuído gratuitamente aos amigos, familiares e doado para escolas e bibliotecas.
Os diários são um patrimônio da história do Brasil na Segunda Guerra Mundial e têm uma história curiosa: durante os dias no front italiano, Hertel parou de escrever seus diários e entregou os cadernos ao cozinheiro do pelotão, pois imaginou que não fosse retornar. Ele pediu que os diários fossem entregues para seus pais. Cinco anos após o término da guerra, o cozinheiro cumpriu a promessa e veio pessoalmente entregar os diários.
Hertel embarcou no dia 29 de junho de 1944 no navio General Mann, no Rio de Janeiro, e duas semanas e meia depois desembarcou no porto de Nápoles, no sul da Itália. E de lá foi subindo com a Companhia em direção ao norte, até chegar no front, nas regiões de Lucca e Toscana. Foi soldado mensageiro, intérprete e escapou da morte algumas vezes. Em 18 de julho de 1945 voltou ao Brasil.
Walter Carlos Hertel contribuiu com sua parcela de trabalho e apoio à comunidade de Jaraguá do Sul, fato que lhe rendeu a comenda de cidadão benemérito em 2019. Foi membro-fundador de diversas instituições na cidade, como da CDL (Câmara de dirigentes lojistas), da Scar (Sociedade Cultura Artística), do clube de bolão Az de Ouro, do Clube Atlético Baependi e da AAMPAZ (Associação dos Amigos do Museu da Paz).
E como relojoeiro por formação e gestor autodidata, Hertel administrou um dos mais tradicionais comércios da região, a relojoaria W. Hertel, fundada pelo pai em 1924, depois seguindo no ramo ótico, atividade a qual se dedicou até a venda do comércio em 2007. Paralelamente, administrou e geriu os imóveis da família, ampliando os empreendimentos. Walter Carlos Hertel é a história viva de Jaraguá do Sul.
Leia um trecho do diário:
“Hoje vi muita gente com medo, e eu mesmo tremi. Mas superei. Alguns estavam em pânico e isso poderia matá-los. Não atendiam as ordens do Comandante e ele foi obrigado a gritar e usar a força. Até que passou esse estado de pavor em que nos encontrávamos. Esta noite realmente foi horrível e mexeu com os nervos de todo mundo, o que também era a intenção do inimigo. Terrível ouvir os tiros de inquietação das metralhadoras alemãs, apelidadas de Lurdinha, durante a noite toda. A cadência dos tiros é tão rápida que parece uma máquina de costura, é um som estridente que mexe com os nervos de qualquer um.”