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“Nossa família está destruída”, diz irmã de jovem assassinada pelo ex-companheiro em Jaraguá do Sul

Foto: Redes Sociais

Por: Elisângela Pezzutti

08/12/2022 - 17:12 - Atualizada em: 08/12/2022 - 19:44

Gabriela Bealvo Ribeiro da Silva, 30, irmã de Sara Bealvo Ribeiro, 24, assassinada pelo ex-companheiro na quarta-feira (7), em Jaraguá do Sul, chegou na cidade nesta quinta-feira (8), no início da tarde, vinda de Pelotas (RS), onde reside a família.

Ainda em choque, ela conta que veio acompanhada do marido e que quer levar o corpo da irmã para a cidade gaúcha, onde reside sua mãe, de 66 anos. “Nossa família está destruída”, diz Gabriela, contando que, no Dia das Mães deste ano, enterrou um irmão de apenas 20 anos, também vítima de assassinato.

“Minha mãe não consegue fazer nada, só chora. Ela quer o guri lá com a gente”, diz Gabriela, se referindo ao sobrinho de 10 meses, agora órfão de mãe. “Vim só eu e meu marido para cá, porque sou eu quem cuida de tudo em casa”, explica. “Vou tentar levar o corpo da minha irmã para Pelotas, porque essa é a vontade da nossa mãe”, explica.

De acordo com Gabriela, Sara se mudou de Pelotas para Jaraguá do Sul há cerca de quatro anos com um namorado, que também era de lá. “Eles ficaram morando juntos uns dois anos, só que enquanto a minha irmã trabalhava, ele ficava vendendo droga dentro de casa, até que foi preso. Ela chegou a visitá-lo algumas vezes na cadeia, mas desistiu da relação, porque ele batia nela. Aí, depois ela conheceu o Ricardo (o assassino) e aconteceu tudo isso”, conta desolada.

Terceiro feminicídio do ano em Jaraguá do Sul

O crime aconteceu na Rua João Planincheck, no Bairro Nova Brasília. Este é o terceiro caso de feminicídio registrado em Jaraguá do Sul somente em 2022. O assassinato também choca pela extrema crueldade. Sara estava com o filho no colo, quando foi morta a facadas por Luís Ricardo da Silva, que é o pai da criança. O bebê também foi ferido na perna e segue internado no Hospital São José, em Jaraguá do Sul. A facada transpassou a coxa, mas nenhum nervo foi atingido, por isso não foi necessária cirurgia. Se as vizinhas não tivessem vindo em socorro da mãe e do filho, é provável que o bebê também tivesse sido morto.

Uma dessas vizinhas, Thamyris Virgínia Pimenta, que ajudou no socorro, ficou com o bebê no hospital, para onde foi levado por volta das 11h, quando ocorreu o crime, até o início da noite. “A avó paterna veio até o hospital, mas não deixaram ela ficar com ele, por ser a mãe do Ricardo. Aí eu fiquei com ele até chegar a assistente social”, conta.

A vizinha Thamyris ajudou a socorrer as vítimas | Foto: Fábio Junkes

Crianças presenciaram a cena

“Meus filhos, Rafael, de 11 anos, e a Elisa, de 6, viram a Sara toda ensanguentada sendo socorrida, e estão muito assustados. Não dormiram direito à noite”, diz Thamyris, que também está muito chocada com a cena que presenciou. “A gente mora na kitnet do lado da que a Sara morava e a Elisa costumava ir na casa dela por causa do bebê”, conta.

“Nós moramos aqui há seis meses e a Sara se mudou para cá há uns dois meses. O Ricardo já tinha vindo aqui antes, mas a gente nunca ouviu eles brigarem. Inclusive a Sara estava namorando outra pessoa. Ontem a gente ouviu eles discutindo e quando a Sara começou a gritar por socorro, nós corremos para ver o que estava acontecendo. Nisso ela já estava cheia de sangue no peito e nos braços. Mesmo sangrando e com muita dor, ela me pediu para cuidar do filho dela”, relata.

Sara foi encaminhada para o hospital pelos Bombeiros Voluntários em estado grave e morreu logo depois de dar entrada na unidade.

Bebê é encaminhado ao hospital pelos Bombeiros Voluntários | Foto: Fábio Junkes/OCP News

A motivação do crime

A titular da Delegacia de Polícia da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) de Jaraguá do Sul, Roberta França, informou que a motivação do crime ainda é desconhecida, porque o assassino ficou em silêncio durante o interrogatório. Ela também afirmou que Sara tinha uma Medida Protetiva, da qual abriu mão em agosto deste ano.

Delegada Roberta França | Foto: Fábio Junkes/OCP News

Ricardo fugiu de bicicleta, mas foi alcançado logo depois pelos policiais. O delegado Leandro Lopes, da Delegacia de Polícia Civil, foi quem fez o flagrante. Lopes informou que vai solicitar a conversão da prisão em flagrante em preventiva. O caso é tratado como feminicídio e tentativa de homicídio

Extensa ficha criminal

Luís Ricardo da Silva, 31 anos, é natural de Jaraguá do Sul e tem diversas passagens policiais por violência doméstica, crimes de trânsito, estupro de vulnerável e lesão corporal, entre outros crimes. Ele foi encaminhado para o presídio e posteriormente passará por audiência de custódia.

Ainda não há informações sobre com quem ficará a criança, mas deve ficar sob os cuidados de familiares mais próximos da mãe. A delegada explica que isso será analisado pela Juizado da Infância e da Juventude e que para decidir a guarda são observados vários fatores, como, por exemplo, as condições financeiras e emocionais da pessoa que se candidata a ficar com a guarda do menor.

Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul emite nota de pesar

Ontem, ao tomar conhecimento do crime, a Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul emitiu uma nota de pesar com a seguinte mensagem:

“A Câmara de Vereadores e a Procuradoria da Mulher de Jaraguá do Sul manifestam profundo pesar diante de mais um caso de feminicídio em nosso município. Sara Bealvo Ribeiro, 24 anos, foi assassinada a golpes de faca nesta quarta-feira, dia 7, em sua residência pelo ex-companheiro. Seu filho, um bebê de 10 meses, também foi atingido, mas felizmente passa bem. O ex-companheiro foi preso. A jovem já havia recebido atendimento da Procuradoria da Mulher, na Casa de Leis jaraguaense e tinha medida protetiva contra o ex-companheiro. Ela também era beneficiária do Aluguel Social da Prefeitura de Jaraguá do Sul. Infelizmente, todos os esforços não foram suficientes para garantir que Sara recomeçasse sua vida. Em plena semana da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, nos solidarizamos com familiares e amigos e ressaltamos a importância de investir em ações efetivas que visem a mudança de comportamento da sociedade como um todo no combate à violência contra a mulher.”

“Uma mãe que cuidava, protegia e amava”

A Procuradora da Mulher, vereadora Nina Santin Camello, também se manifestou publicamente:

“Estou cansada de falar sobre violência contra a mulher. De trazer casos e mais casos. De falar na tribuna, de fazer moções, notas de repúdio e pesar, projetos de lei, indicações, de pedir por mais conscientização.

Estou cansada de atender mulheres, de todas as idades, classes sociais, religiões, com filhos e sem filhos, com sonhos e já sem sonhos… estou cansada de receber notícias de mulheres assassinadas, todos os dias, por serem mulheres.

Hoje, tivemos o terceiro feminicídio do ano em Jaraguá do Sul. Sara Ribeiro, 24 anos, foi brutalmente assassinada pelo ex-companheiro. Sara era justamente uma dessas mulheres que me procuraram em busca de ajuda, com filho, com sonhos, com vontade de recomeçar.

Estava sempre com o bebê no colo, contando sobre suas dificuldades e comemorando suas pequenas conquistas. Era uma mulher batalhadora, alegre e otimista. Era uma mãe que cuidava, protegia e amava.

Sara tinha recebido atendimento da Procuradoria da Mulher. Tinha medida protetiva e era beneficiária do Aluguel Social. Infelizmente, todos os esforços não foram suficientes para garantir que Sara recomeçasse sua vida. Infelizmente, nada disso garantiu que ela e seu filho vivessem uma vida juntos, sem violência.

Em plena semana da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, e em todos os outros dias, mesmo cansada, vou continuar gritando, falando, e buscando ações que sejam verdadeiramente efetivas no combate à violência contra a mulher.”

Reprodução/Instagram/@ninasantincamello

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Elisângela Pezzutti

Graduada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Atua na área jornalística há mais de 25 anos, com experiência em reportagem, assessoria de imprensa e edição de textos.